Respondendo a Aldo Costa “Para você, que pontos nós junguianos ‘ainda não aprendemos a herdar com serenidade’”

(22 de agosto de 2012)

Há algum tempo, Aldo Costa um leitor que colabora bastante com nosso blog enviou um comentário com uma pergunta,

Prezado Fabrício,

Realmente o livro do Roberto Gambini é excelente (considero leitura obrigatória). Porém, ainda hoje me pego analisando as possibilidades possíveis quando ele diz que: “Nós junguianos temos um complexo de herança – ainda não aprendemos a herdar com serenidade. Alarmamo-nos com a idéia de que a herança possa ocultar um problema paterno, ou que ameace nossa liberdade criativa.”
Qual a sua opinião sobre o trecho citado? Para você, que pontos nós junguianos “ainda não aprendemos a herdar com serenidade”.

Acredito que para começarmos a pensar uma possível resposta devemos voltar ao texto do Gambini. Em seu livro, ele aponta para um complexo de inferioridade junguiano frente a psicanálise, segundo ele,

Um dos problemas a essa questão é o famoso complexo de inferioridade dos junguianos perante os freudianos. (…)

Surgiu então uma certa tendência entre os junguianos, de se fortalecerem através da adoção de procedimentos freudianos, como se isso os legitimasse num terreno de insegurança. O analista junguiano que aprende o uso da técnica psicanalítica, com seu manejo típico da transferência e da resistência, que faz interpretações nessa campo da maneira como é concebida pela Psicanálise, que pensa o momento analítico como repetição do vivido, que concebe o material reprimido como sendo aquilo que uma vez esteve na consciência, que entende os sonhos como exclusiva manifestação de desejos infantis, esse analista junguiano está na verdade pensando  e operando como um psicanalista. Alguns usam divã. De um lado se diz que o sincretismo é positivamente uma aproximação de linhas então divergentes. Digo que não. A Psicanálise até hoje não lucrou rigorosamente nada com a aproximação que lhe fez a Psicologia Analítica, talvez tenha antes se comprazido com o reconhecimento tardio dos descendentes do principal desertor do circulo vienense original. O resultado dessa tendência é a crescente descaracterização da Análise Junguiana, à medida que seus praticantes vão procurar na Psicanálise elementos que supostamente lhes falem. Grifo a palavra supostamente. (GAMBINI, p. 42-44).

Acredito que esse complexo de inferioridade defendido por Gambini não se caracteriza apenas pela “inferioridade frente a psicanálise”, outra forma dessa inferioridade é o que Andrew Samuels, em seu texto, “Sobreviverão os Pós-junguianos”, chamou de “fundamentalismo junguiano” é uma forma compensada deste complexo. Segundo Samuels,

Como todos os fundamentalismos, o fundamentalismo junguiano deseja controlar quem ou o que faz parte e/ou não faz. Daí tende a ser cruel e estigmatizante. Ouve-se, às vezes, numa avaliação das circunstâncias de treinamento: “Ele (ou ela) não tem mente psicológica,” dizem. Ou a tipologia é utilizada para estabelecer situações sociais, culturais ou interpessoais complexas, de um modo inteiramente improdutivo e oracular. Mulheres intelectuais podem ser sumariamente executadas. O fundamentalismo junguiano nega seu papel no mercado de trabalho – tenta convencer-nos de que ele apenas é, que não tem um projeto persuasivo, procurando influência, como o resto de nós. Há uma tentativa de negar seu aspecto comercial, inclusive o financeiro. O fundamentalismo junguiano enfatiza a pessoa de Jung e suas palavras proféticas, que, às vezes, chegam até mesmo a alegar serem inspiradas pelo divino. Mas o que enfatiza, particularmente, é como vivia Jung. Às vezes isso é chamado de “o caminho junguiano”. Tenho horror à essa noção de haver “um” ou “o” caminho junguiano, mas o fundamentalismo junguiano joga com isso.

(…)

Deixem-me prosseguir, fazendo uma crítica semelhante à tendência jungiana atual em direção à fusão com a psicanálise. Quero deixar bem claro que não sou contra o uso da psicanálise pelos junguianos, como é o caso da escola desenvolvimentista. Como foi que apareceu no mundo junguiano, essa tendência atual de fundir-se com a psicanálise? Em primeiro lugar, acho que, muitas vezes, baseou-se em alguma coisa excessivamente pessoal, visto que vários junguianos que fizeram análise pelas escolas jungianas clássica ou desenvolvimentista não ficaram satisfeitos com suas experiências ali. Daí a fusão jungiana com a psicanálise pode estar baseada, em minha opinião, na raiva e numa idealização da psicanálise como sendo, de alguma forma, clinicamente melhor, como possuindo requintada e superior habilidade clínica, quando comparada com a nossa.

Isto leva os junguianos a fecharem os olhos às enormes contribuições clínicas que têm sido feitas pelos próprios junguianos. Não estou fazendo a queixa costumeira (referida acima) de que ninguém reconhece que “nós” pensamos nisto primeiro. Minha queixa aqui é a de que os próprios junguianos da escola psicanalítica não atentam para certas idéias que são nossas por direito de nascença e por herança. (SAMUELS, S/D)

Entretanto, não basta pensar apenas como um complexo de inferioridade, relacionado aos desenvolvimentos e reconhecimentos alcançados pela psicanálise. Não podemos perder de vista que há, também, uma certa relação estabelecida com  a figura de Jung, que em alguns casos beira a mitificação de Jung por um lado, por outro, um distanciamento excessivo das concepções junguianas. Samuels foi extremamente feliz quando propôs o termo pós-junguianos, segundo ele “Quero expressar com isso uma conexão com Jung e, ao mesmo tempo, distância crítica de Jung” (op.cit). Samuels nos fala da necessidade de um luto adequado de Jung.

Se não houvéssemos feito luto adequado por Jung, estaríamos deprimidos. E realmente acho que exista uma depressão no mundo junguiano de hoje que torna difícil valorizar-nos suficientemente para abrirmo-nos a outros psicoterapeutas e intelectuais em geral. O que significaria estar de luto por Jung? Significaria pôr-se além de uma divisão idealização-depreciação em relação a ele, uma divisão que sinto contaminar algo de nossos pensamentos e, certamente, de nossas práticas.

Acredito que estamos dando passos importantes para a “elaboração” desse luto. Mas, a julgar pelo que vemos através das redes sociais temos ainda temos um belo percurso pela frente. Vejo muitos ainda com uma visão extremamente idealizada de Jung, mas, que pouco se dedicam a compreender seus textos assim como os textos dos pós-junguianos. Na elaboração desse luto acredito que a psicologia arquetípica tenha uma contribuição fundamental, pois, ela nasce como uma leitura crítica dos textos de Jung. Acredito que muitos junguianos ainda careçam dessa critica aos textos junguianos, especialmente, os que seriam classificados como “clássicos”. 

Então, Aldo, peço desculpas por essa longa volta… acredito que posso voltar a sua pergunta inicial, o que acho do texto de Gambini? Sim, concordo com o texto.

O que não aprendemos a lidar com serenidade?

Faço das palavras de Gambini e de Samuels as minhas, acho que devemos conscientizar esse o complexo de inferioridade que se traduz em diversos aspectos, como a dependência da figura do pai, muitas vezes traduzidas como o “Mestre Jung”, como se não houvesse produção após Jung! Nossa, o universo junguiano ou pós-junguiano é muito rico! E, muitas vezes, vemos apenas uma pontinha dele… Estudar os textos de Jung é fundamental, mas, não podemos nos tornar reféns de sua obra. Compreendo que fazer jus a Jung é ir para além de Jung. É se abrir ao dialogo, mas, sem ter um “pires na mão” pedindo reconhecimento. É compreender que a psicologia junguiana é plural. E nisso reside nossa força, nossa identidade. Me recordo da frase do belo texto de Clarice Lispector “Perdoando Deus”, que diz “Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrario(…)”  Acho muitas vezes agimos assim, nem ao menos conhecemos todas as possibilidades das escolas junguianas, já nos voltamos a outras abordagens.  Talvez, um desafio será aprendermos a lidar com serenidade com a psicologia junguiana em sua totalidade e com toda sua possibilidade.

Aldo, desculpe a demora para responder suas perguntas. Fico muito feliz com suas colaborações! Abraços,

Referências Bibliográficas

GAMBINI, R. A voz e o tempo: reflexões para jovens terapeutas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2008.

SAMUELS, A. Sobreviverão os Pós-Junguianos? Disponível em:
http://www.rubedo.psc.br/Artigos/sobrevi.htm   Acesso em:  22 agosto. 2012, 15 p.

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

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“Eu acho que não vou conseguir” – Breve reflexão sobre o símbolo de travessia e psicoterapia

(2 de agosto de 2012)

“Eu acho que não vou conseguir…”

Essa é uma fala que frequentemente ouvimos no consultório. Há algum tempo eu atendi uma pessoa que estava deprimida (e com vários outros problemas por resolver) e que, no inicio da terapia  repetia frase “não sei se vou conseguir”, ao que num dado momento, respondi, “acho que você não percebeu, mas, você já está conseguindo”, frente a expressão de interrogação, acrescentei, “ veja quanto tempo você já está nesse processo, você já foi ao psiquiatra, você já buscou terapia. É importante  você perceber o caminho percorrido em sua travessia.”Nas sessões seguintes, nos deparamos com o símbolo da travessia em diferentes situações, onde observamos os vários momentos onde o paciente atravessou divergentes crises em sua vida, onde pudemos vislumbrar juntos o seu potencial, contribuindo para o seu processo terapêutico.

Acredito que o símbolo de “travessia” seja uma excelente imagem para pensarmos o processo da psicoterapia. Isto, pois, geralmente, durante a crise a pessoa tende a esquecer de seu próprio potencial.  Segundo Jung, 

Não devemos esquecer que toda neurose é acompanhada por um sentimento de desmoralização. O homem perde confiança em si mesmo na proporção de sua neurose. Uma neurose constitui uma derrota humilhante e desse modo é sentido por todos aqueles que não são de todo inconscientes de sua própria psi­cologia. (JUNG, 1999,p.12)

Essa “falta de confiança” ou “ sentimento de desmoralização”  geralmente é compensada através da relação transferencial. Por meio da transferência, o paciente deposita no analista/terapeuta o potencial que não consegue enxergar em si mesmo. Não devemos esquecer que essa “derrota humilhante” se relaciona com a postura unilateral da consciência. No inconsciente, por outro lado, reside todo o potencial da vida psíquica do individuo, tanto passada quanto futura.

Por isso mesmo, não podemos perder de vista a potencial do paciente, que podemos observar, primeiramente, ao longo de sua própria história. A análise visa restabelecer a relação da consciência com o inconsciente, promovendo a integração, isto é, superando a divisão interna que promoveu neurose (lembrando que a própria neurose é uma tentativa de superar essa divisão).

O método construtivo de tratamento pressupõe percepções que estão presentes, pelo menos potencialmente, no paciente, e por isso é possível torná-las conscientes. Se o médico nada sabe dessas potencialidades, ele não pode ajudar o paciente a desenvolvê-las(…). Por isto, na prática é o médico adequadamente treinado que faz de função transcendente para o paciente, isto é, ajuda o paciente a unir a consciência e o inconsciente e, assim, chegar a uma nova atitude. Nesta função do médico está uma das muitas significações importantes da transferência: por meio dela o paciente se agarra à pessoa que parece lhe prometer uma renovação da atitude; com a transferência, ele procura esta mudança que lhe é vital, embora não tome consciência disto. Para o paciente, o médico tem o caráter de figura indispensável e absolutamente necessária para a vida. (JUNG, 2000, p. 12)

Por isso, é fundamental que o analista/terapeuta seja capaz de “devolver” ao paciente o potencial que lhe foi transferencialmente confiado, de modo, que possa uma nova atitude da consciência possa surgir.

O símbolo de travessia quer associado a um rio, deserto ou a noite, nos traz uma dimensão tempo e espaço, isto é, de história – de passado, presente e futuro –  possibilita compreendermos o processo, nos permite compreender de onde viemos, onde estamos e qual a direção a seguir. A própria vida pode ser representada como uma longa travessia, mas, devido ao fato da consciência estar relacionada com adaptação ao momento presente, muitas vezes, percebemos essa “travessia” fragmentada, em “pequenas travessias”. Para compensar essa  “limitação”, sempre que necessário,  o inconsciente colabora (através dos sonhos, sintomas e outras formações simbólicas) com a experiência que já vivemos e/ou com  a experiência coletiva. Mas, tudo depende a disponibilidade da consciência em se abrir para o inconsciente.

Por isso mesmo, eu disse acima que a travessia seria um símbolo viável para a psicoterapia. Esta, não é a “travessia” do problema, mas, a travessia da distância que separa o individuo de “Si-mesmo”, que separa o individuo de seu potencial, de seu ser real.

Referências Bibliográficas

JUNG,C.G. Psicologia e Religião, Petrópolis,: Vozes 1999.

______. A Natureza da Psique. Petrópolis: Vozes, 5. Ed. 2000.

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

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Uma Reflexão sobre o Arquétipo Paterno

(publicado originalmente em duas partes, em 16 de julho 2012 e 24 de julho de 2012)

Nos últimos tempos, venho vivenciando as primeiras sensações da paternidade.  Isso tem me feito refletir não só acerca deste momento, mas, entorno dessa vivência que não é pessoal, mas, arquetípica. A respeito dessa experiência, desde muito, a música “O filho que eu quero ter” (Vinicius de Moraes e Toquinho) me tocou profundamente. Conta a história que, Toquinho

numa bela tarde, na praia de Boa Viagem, no Recife, contou a Vinícius sobre seu desejo de ter um filho. Experiente no assunto, o poeta respondeu algo como “Vai nessa! Dá trabalho, mas é muito bom.”
E Toquinho foi além. Mostrou-lhe uma melodia que havia composto inspirado naquele desejo, com uma levada típica de cantigas de ninar. Foi à praia e deixou o parceiro a embalar a música recém-composta.
Ao voltar, encontrou Vinícius aos prantos, com a letra pronta.
Toquinho costuma dizer que a vontade de ter filho era sua, mas Vinícius fez a letra pensando muito mais em si. O homem encantado com o sonho de ter um filho, vê-lo crescer e, ao final, em seu leito de morte, ser por ele embalado com a mesma canção com que o fazia ninar, embevecido por vê-lo reproduzir seu sonho de também ter um filho. (http://portrasdaletra.blogspot.com.br/2007/04/o-filho-que-eu-quero-ter.html)

Antes de continuar, é melhor lembrarmos a música.

O Filho Que Eu Quero Ter

Toquinho

É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr
E assim chorando acalentar o filho que eu quero ter
Dorme, meu pequenininho, dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho de tanto amor que ele tem

De repente eu vejo se transformar num menino igual à mim
Que vem correndo me beijar quando eu chegar lá de onde eu vim
Um menino sempre a me perguntar um porque que não tem fim
Um filho a quem só queira bem e a quem só diga que sim
Dorme menino levado, dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado de tanta dor que ele tem

Quando a vida enfim me quiser levar pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar no derradeiro beijo seu
E ao sentir também sua mão vedar meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar num acalanto de adeus
Dorme meu pai sem cuidado, dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado, com o filho que ele quer Ter.

Do desejo do Toquinho passando pela letra do Vinicius, podemos vislumbrar o mistério da paternidade, que nos atravessa geração após geração. Onde o ciclo da vida se regenera e ganha nova força. Em sua canção, Vinicius descreve não só o drama de uma vida, mas, o drama humano.

Quando falamos em psicologia junguiana de “arquétipo” falamos de um uma “espécie de drama sintetizado. Começa de tal e tal maneira, amplia-se em virtude de tal ou tal complicação e encontra sua solução desta ou daquela forma. Este é um modelo comum.” (EVANS, 1973, p.55). Assim, buscamos compreender os aspectos relativos a experiência humana, isto é, ao drama humano. Por isso mesmo, devemos compreender que o arquétipo corresponde a toda a possibilidade concernente a este núcleo temático, em nosso caso, do arquétipo paterno.

Mas, porque falar em “arquétipo paterno” e não em “função paterna”? O conceito de “função paterna” se desenvolve especialmente a partir da releitura de Lacan, que compreende a função paterna no plano da estruturação do sujeito, associado ao processo edipiano onde a “função paterna” ou “o nome do Pai” se interpõe ao par Mãe-filho, representado pela “Lei” e a “autoridade”. Segundo Brandão “o Édipo lacaniano deve ser situado em torno da função paterna, articulando os conceitos de falo, falta de objeto e castração” (2005,p 30).

Assim, quando nos referimos ao arquétipo paterno, não estamos negando a dimensão da psicanálise, mas, indo para além da mesma, não se restringindo a uma determinada possibilidade única. Compreendemos assim, que a função paterna como descrita pela psicanálise é uma das possíveis expressões do arquétipo paterno.

Pluralidade do Arquétipo Paterno

O arquétipo paterno é uma configuração de miríades de possibilidades da experiência humana de ser pai. Experiência estava que vai desde de o aspecto mais basal ou puramente biológico, pautado em procriação, até o aspecto mais diferenciado que é adoção por escolha e afetividade. 

Por estar enraizado numa experiência tão arcaica, o arquétipo paterno em certo nível, está intimamente relacionado com a dimensão da masculinidade , por isso mesmo, podemos acreditar que é a partir arquétipo paterno que os demais arquétipos masculinos se diferenciam. Podemos, compreender esse fenômeno a partir do que Neumann denominou o processo de fragmentação de arquétipos,

aquilo que chamamos de “fragmentação de arquétipos” é um processo mediante o qual a consciência busca arrancar do inconsciente o conteúdo material dos arquétipos a fim de agregá-lo ao seu próprio sistema. (…)

Ocorre uma fragmentação no sentido de que, para a consciência, o arquétipo primordial se decompõe num amplo grupo de arquétipos e símbolos inter-relacionados. Ou melhor, esse grupo pode ser concebido como a periferia que envolve um centro desconhecido e intangível.(NEUMANN, 1995, p. 232)

A dinâmica de fragmentação de Neumann nos ajuda a compreender a relação estabelecida entre esse arquétipo e os demais arquétipos masculinos (como dos irmãos(fratria), herói, mestre, velho sábio dentre outros). Contudo deve-se ter clareza que

“a fragmentação dos arquétipos não deve, de modo algum, ser concebido como um processo analítico consciente. (…) o surgimento de um grupo de arquétipos, cindido de um arquétipo mais volumoso, assim como do grupo correspondente de de símbolos, é a expressão do processo espontâneo que mantém intacta a atividade do inconsciente. Para o ego consciente, esses arquétipos e símbolos aparecem como produtos do inconsciente, mesmo quando, na realidade, o seu surgimento é constelado pela consciência e pela sua situação geral”(NEUMANN, 1995, 234)

As mitologias retratam a amplitude desse desse arquétipo. Um trabalho bem interessante foi realizado por  Colman e Colman no livro “ O Pai – Mitologia e reinterpretação dos Arquétipos””, onde, investigando as mitologias e as representações arquetípicas paternas eles apresentam cinco categorias mitológicas que nos permitem pensar em certas categorias míticas de pai,

1- Pai Criador: Esta imagem de pai se refere a criação como o “ato criativo”. A paternidade possibilita  individuo se compreenda um “ser criador”, criando assim “sua família”, seu papel social.

Paradoxalmente, o impulso masculino de criação leva para longe da família e da experiência de paternagem e até para longe da experiência de um relacionamento com a mulher. Sua capacidade compartilhada de criar a vida é facilmente desviada. O papel de pai torna-se uma metáfora de sua capacidade de criar edifícios, cidades, arte, religião e governo. Seu papel na criação de um filho é identificado com outros tipos de criatividade. (COLMAN, COLMAN, 1990, p. 30)

Esse modelo se baseia numa perspectiva de paternidade distante, similar ao deus criador masculino, alheio e onipotente,  cria a realidade independente do feminino, não se envolvendo diretamente com os cuidados da criação. São exemplos míticos Deus  do Antigo Testamento na mitologia judaico-cristã, Olorum na mitologia afrobrasileira, Atum na mitologia egípcia do antigo império.

2 – Pai – Terra: Apesar de parecer incomum esse a idéia de “pai-terra”, por estarmos a acostumados com o modelo “mãe-terra”/”pai-céu”. Esse modelo arquetípico de paternidade se caracteriza pelo cuidado e nutrição da prole. Mesmo, que não envolva uma relação familiar.

Essas figuras da terra não são homens de família, mas são nutridores, personagens masculinas que se ocupam do cuidado regular de coisas em crescimento. (…) Ele compartilha do arquétipo do homem da terra, ctônico, que cultiva, o verdadeiro pai-terra que não reconhecido com muita freqüência na nossa cultura, mas que, não obstante, está presente.(COLMAN,  COLMAN, 1990, p. 52)

Esse modelo arquetípico compreende figuras míticas como Baco, que ensinava e ajudava os homens no cultivo e produção do  vinho. Pã e os Fauno ensinaram os cuidados com natureza e com os animais. Freyr, o deus da agricultura,  na mitologia nórdica.

3- Pai-Céu:  Essa categoria, de pai-céu está associado as mitologia celestes cujas  principais características são prover, julgar e proteger.

Um  pai desses vive antes na fronteira do que no coração da família. Quando ele age como disciplinador ou como aquele que decide, sua influência depende de seus símbolos exteriores de poder e não de sua presença efetiva. Sua família define sua autoridade como originada no mundo exterior. Quando bem sucedido neste, ele é respeitado (se que bem não necessariamente amado); se fracassar fora, também fracassará na família, visto que sua potência decorre do sucesso exterior.(COLMAN,  COLMAN, 1990, p. 52)

O pai-céu é como o deus-sol do mito, que traz a luz da consciência para reinos antes dominados pelas mãe. Ele pouquíssimas vezes tem consciência do grau até o qual separa mãe e filho ao oferecer uma presença alternativa em casa. Ele apenas representa o papel que um homem deve exercer, uma ez que deixou a cargo da mãe-terra as responsabilidades da criação do filho. Alguém deve ajudar a criança a deixar o ninho e encontrar sua individualidade. A partir dessa posição exterior, o pai é perfeitamente adequado à função. (COLMAN, COLMAN, 1990, p. 66)

O modelo pai-céu, revela um pai distante, que fala acima, cuja relação com os filhos passa pela lei, ordenação e disciplina. Na mitologia, esse modelo é representado por divindades celestes, poderosas que se manifestam a distância, como Zeus, Thor, Yahweh(Iavé), que no geral se apresentavam mais pelo temor do que pelo afeto e intimidade.

4 – Pai-Real : O Pai-real é o modelo arquetípico que unifica tanto as características do pai-terra e do pai-céu. O termo “Real” remente a realeza, o pai-real está associado ao “patriarca”, representante de uma dinastia, assim, onde o Pai-Real é o rei e senhor da casa.

(…) o pai real é uma entidade absoluta que contém em si todas as funções, incluindo aquelas relegadas tradicionalmente à mulher. O pai real não procura ter como parceria uma deusa terra, dotada de um forte poder feminino que lhe seja propício. Em vez disso, toma por esposa uma virgem, valorizada por ser pura e inocente. Ela ela tem pouca educação politica ou poder pessoal. Cumpre todas as suas tarefas sob os olhos atentos do pai real. Ele a protege, ao lado do resto da família e do reino. Essa proteção rouba da mulher muito de sua influência e potência femininas, da mesma maneira como elimina toda competição pelo poder em casa.(COLMAN, COLMAN, 1990, p. 78)

Assim, o Pai-Real, conduz a família, mas, não permite a participação dos demais membros – esposa e filhos. 

Pai-Diatico: Esta última categoria, se caracteriza pela “díade”, isto é, pelo “par”. Ao contrario das categorias acima,  é a tipo de pai que divide o seu papel com uma companheira.

A paternagem diática significa o compartilhamento de papéis-terra e papéis-céu por ambos os parceiros. Na prática, requer uma operação intercambiável do pai e da mãe. O pai vai precisar deixar de lado a imagem de si mesmo como única autoridade-céu e aceitar muitas funções-terra como responsabilidade sua; a mãe necessitará abandonar sua imagem de si mesma como a principal autoridade-terra e terá de realizar muitas funções-céu. (COLMAN, COLMAN, 1990, p. 91)

Essa categoria implica não só na divisão de papéis, mas, na interação do componente feminino. A imagem mítica associada é da Sizigia, onde há o emparelhamento do masculino e o feminino, em equilíbrio.

A categorização feita por Colman e Colman deve ser compreendida como possibilidades arquetípicas, mas, que não definem o individuo. Em momentos diferentes da vida a experiência da paternidade pode assumir diferentes aspectos. Acredito ser importante que compreendermos que essas categorias não escolhas conscientes, mas, padrões inconscientes que se manifestam em diferentes épocas da história humana ou mesmo podem se manifestar na vida do homem atual.

Ter ou Ser?

No inicio deste post, apresentei a música do Vinicius de Moraes e do Toquinho “O filho que eu quero ter”, na música expressa justamente o desejo do pai :De repente eu vejo se transformar num menino igual à mim”. Muitas vezes, o desejo de “ter o filho” oculta uma questão ainda mais crucial, que seria a reflexão acerca do que “ o pai que eu quero ser”.

Acredito que esta questão é fundamental pois, no geral, não temos clareza que a força do arquétipo reside em sua inconsciência. Isto é, quanto mais inconsciente estiver o individuo, maior será a poder do arquétipo.

Na medida em que pudermos pensar antes no “no pai que eu quero ser” poderemos recolher nossas projeções assim como nos confrontar com o nosso próprio complexo paterno. Assimilar de forma consciente a transição de filho para pai, de modo a poder fazer as escolhas, não repetindo apenas o nosso próprio passado – pessoal ou coletivo.

Essas duas dimensões(ter e ser) nos abrem a possibilidade de pensarmos um pouco mais a psicologia da paternidade.  É importante frisar que não falo aqui do “papel de pai”, ou seja, não estamos nos referindo uma função social ou relacional, mas, sim a uma dinâmica que estrutura e modifica profundamente a experiência do individuo consigo mesmo. Significando uma etapa fundamental no seu processo de individuação.

Acredito que seja igualmente importante lembrarmos que todo arquétipo é composto por dois polos, no caso do arquétipo paterno são os polos PAI-FILHO. Creio ser importante, pois, somente com a integração do polo “FILHO”, poderá haver uma realização efetiva e criativa da Paternidade. Em outras palavras, isso significa dizer que é importante que individuo esteja em paz com o próprio “Ser-Filho”, para assim, poder “Ser-Pai”.

É importante observarmos que a inconsciência acerca de si mesmo, acerca de sua própria história como filho, é compensada com a projeção no filho de seus próprios desejos, isto é, por meio da projeção no filho, o pai pode tentar ter uma experiência total de si mesmo. Quando essa integração não ocorre, o filho sofre pelas expectativas e desejos do pai, uma vez que este último, não consegue conceber o filho fora de desejo de si mesmo. Outra possibilidade é a rejeição ou indiferença ao filho como uma projeção da rejeição ou indiferença desse aspecto de sua própria história.

Assim, a reflexão do “o pai que eu quero ser” expressa o encontro dos pólos “Eu-Filho” e “Eu-Pai”, confrontando-os com os seus contrapontos externos, isto é, “Meu-Pai” e “Meu-Filho”.  É justamente essa totalidade da experiência que temos na experiência  descrita na canção “O Filho que eu quero ter” de Vinicius e Toquinho(apresentada no post anterior), onde o filho se torna pai, cujo filho nasce cresce e se prepara para torna-se pai, fechando o ciclo do arquétipo.

Para além da lei: Revisitando a família de Édipo

De forma geral, a paternidade acabou por ser tratada de uma forma específica e delimitada na psicologia,

Nas Produções teóricas desenvolvidas ao longo desse século, onde se destacou a abordagem psicanalítica, o espaço reservado ao pai, no que tange ao processo do filho, foi e tem sido definido basicamente em duas funções: em primeiro lugar, a de interditar o vínculo com a mãe, impedindo que se prolongue indefinidamente a natureza simbiótica dessa relação dual, que visa preponderantemente a obtenção do prazer com a satisfação das necessidades do filho; e, em segundo lugar, concomitantemente com a primeira função, a de introduzir o filho no mundo da Lei, desenvolvendo com isso a linguagem, a noção de limites e o recurso de discriminação, três elementos preponderantes para sua inserção na cultura. (ALMEIDA, 2007, p.41-2)

A certamente a contribuição psicanalítica foi importante, contudo, essa concepção se relaciona diretamente com uma dada visão psicanalítica que não corresponde a totalidade das escolas da psicanálise, destacamos a concepção da teoria do amadurecimento de D.W.Winnicott neste contexto. Cito Winnicott, pois, a em larga escala suas concepções dialogam com a concepção junguiana(especialmente, da escola inglesa).

Uma crítica geralmente feita à psicanálise é a de ter uma visão “patologizante” da vida psíquica. É interessante que o próprio mito de Édipo é uma expressão disso. A tragédia de Édipo é antes uma “maldição familiar” que culmina em Édipo. Para entendermos esse “complexo familiar”, talvez, seria interessante voltar duas gerações antes de Édipo, conhecendo assim o avô e o pai de Édipo.

Segundo nos conta Brandão (2005), o avô de Édipo foi o rei tebano Labdaco cujo pai, Polidoro, morreu quando ele tinha apenas um ano. Por ser muito novo, seu avô Nicteu, assumiu o trono, mas, este se matou. Deixando o trono para Lico,(tio-avô). Após assumir o trono, teve um reinado marcado pela guerra com Atenas e, em especial, foi o periodo da introdução do culto a Dionísio na Beócia, como Labdaco não permitiu o culto a Dinísio em Tebas, ele foi despedaçado pelas bacantes.

Com a morte prematura de Lábdaco, seu filho Laio, por ser ainda muito jovem, não pôde assumir as rédeas do governo e, mais uma vez, Lico tornou-se regente; mas, dessa feita, por pouco tempo, porque foi assassinado por seus sobrinhos Anfião e Zeto.

Laio, com a morte violenta do tio, fugiu precipitadamente de Tebas e buscou asilo na corte de Pélops, o amaldiçoado filho de Tântalo, (…). Laio, todavia, herdeiro não apenas do trono de Tebas, mas sobretudo de algumas mazelas de “caráter religioso” de seus antepassados, particularmente de Cadmo, que matou o Dragão de Ares, e de Lábdaco, que se opôs ao deus do êxtase e do entusiasmo, cometeu grave hamartía na corte de Pélops. Desrespeitando a sagrada hospitalidade, cujo protetor era Zeus, e ofendendo gravemente Hera, guardiã severa dos amores legítimos, raptou o jovem Crisipo, filho de seu hospedeiro (…). Este(Pélops) execrou solenemente a Laio, o que, juntamente com a cólera incontida de Hera, teria gerado a maldição dos Labdácidas. Crisipo, envergonhado, matou-se. (BRANDÂO, 2005, p.237)

Como podemos perceber, Laio cresceu sem pai, refugiado numa corte distante. O principal “pecado” de Laio foi raptar Crisipo, filho de seu anfitrião Pélops, esse crime foi um ato contra o próprio Zeus. Por esse ato, contra o filho de seu anfitrião, ele foi condenado a ser morto pelo próprio filho e, segundo a versão de Sófocles, ter sua esposa desposada pelo mesmo.  Essa sentença foi dada a Laio pelo Deus Apolo, em seu oráculo de Delfos.

O nascimento de Édipo atendia a uma determinação da lei divina. O crime de Laio deveria punido. A história de édipo é mais familiar, após o nascimento Édipo foi exposto, sendo resgatado por um pastor e levado a corte de Pólibo, rei de Corinto, onde foi criado como filho do rei. Por ocasião de um roubo de cavalos do reino de Pólibo, Édipo sai em busca dos cavalos, passando pelo oráculo de Delfos, onde “em vez de receber da Pítia uma resposta à pergunta que lhe fizera, a sacerdotisa de Apolo o expulsou do templo sagrado, vaticinando-lhe algo terrível: ele estava condenado a matar o pai e unir-se à própria mãe.”(BRANDÃO, 2005, p.245).

Édipo não voltou a Corinto, fugindo do destino previsto por Apolo. No caminho entre Daulis e Delfos, ele se depara com a comitiva de Laio. Após se afrontado por Laio, que lhe era desconhecido, Édipo reage matando seu pai e os membros de sua comitiva, restando apenas um escravo. Como não iria voltar para Corinto, escolheu o caminho de Tebas, que estava sendo assolada pela Esfinge. Após, vencer a Esfinge, Édipo adquire o direito de reinar, até que a peste motiva a busca pelo culpado pela morte do antigo. Os indícios acabam por levar ao próprio Édipo, que ao descobrir sua história, frente a aos acontecimentos,  Édipo fura os olhos, sai a vagar, até por encontrar a paz, em Colono, onde é recebido pela terra e, se torna herói protetor de Colono, futura Atenas.

Quando observamos a família de Édipo, notamos que em três gerações não houve uma relação estabelecida de PAI-FILHO. Outros aspectos relevantes são as mortes prematuras, ofensas os deuses, criação por estranhos. Mas, um aspecto fundamental é que  todos eram representantes da lei. Sim, por serem de família real, eles eram representavam a lei para seu povo.  Eles pertenciam a categoria de Pai-Céu (conforme, vimos na primeira parte de texto), essa categoria de paternidade indica justamente o distanciamento da família, um posicionamento de julgamento e proteção(nesse caso voltado ao povo).

Acredito que ser fundamental para entendermos do que nos fala o mito de Édipo, devemos nos voltar a peça,

Creonte

Vou dizer, pois, o que ouvi da boca do deus. O rei Apolo ordena, expressamente, que purifiquemos esta terra da mancha que ela mantém: que não deixemos de agravar-se até tornar-se insuperável.

Édipo

Mas, por que meios devemos realizar essa purificação? De que mancha se trata?

Creonte

Urge expulsar o culpado, ou punir, com a morte, o assassino, pois o sangue maculou a cidade.

Édipo

De que homem se refere o oráculo à morte?

Creonte

Laio, o príncipe, reinou neste país, antes que te tornasse nosso rei.

(SOFOCLES, s/d, p.23-4)

É interessante notarmos que o drama em torno do qual a narrativa de Édipo se desenrola é entorno da morte de Laio, o incesto é secundário na trama, fazendo parte da punição a Laio. Acerca dessa exigência de Apolo, podemos compreender como a forma de Édipo se encontrar consigo mesmo, com sua história, e, para tanto deveria se encontrar com seu pai.

Considerações Finais

Estes dois posts, procurei pensar a paternidade para além do modelo comum. Acredito que a vivência interior da paternidade exige atenção e escolha. Uma escolha que deve ser refeita cotidianamente. Os modelos de paternidade apresentados por Colman e Colman nos falam de dinâmicas que não envolvem a escolha consciente pela paternidade.

Muitas vezes, pensamos a paternidade sob a ótica da organização psíquica do filho. Contudo, não podemos perder de vista que a paternidade, como fase, serve ao processo de individuação do homem.  E, desta forma, quando integrada servirá ao desenvolvimento pleno do filho.

Certamente, a paternidade não se restringe a “paternidade biológica”. A mitologia nos ensina bastante acerca da função paterna. Sem ignorar, a função da lei ou de ser uma terceira pessoa real que amplia e desfaz a diade mãe-filho, a mitologia grega através do centauro Quirão (ou Chiron), que acolheu vários heróis (abandonados pelos pais), nos ensina que a função paterna também é acolher, orientar e auxilar que os filhos encontrem o próprio destino.

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Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Maria Beatriz Vidigal Barbosa de. Paternidade e subjetividade masculina em transformação: crise, crescimento e individuação. Uma abordagem junguiana. 2007. Dissertação (Mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-13082007-150555/>. Acesso em: 2012-07-19.

BRANDÃO, Hortensia Maria Dantas, A LEI EM NOME DO PAI: IMPASSES NO EXERCÍCIO DA PATERNIDADE NA CONTEMPORANEIDADE Salvador: UFBA, Tese de mestrado, 2005. Disponível em : http://www.pospsi.ufba.br/Hortensia_Brandao.pdf

BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. vol. III. 13 ed.  Petrópolis: Vozes, 2005.

SÓFOCLES Rei Édipo. In: “Rei Édipo  – Antígone  – Prometeu  acorrentado”.  Prefácio, tradução e  notas  de  J.B.  Mello  e  Souza.  17.ed.  Rio  de  Janeiro : Ediouro. s/d.

EVANS,R.Entrevistas com Jung e as Reações de Ernest Jones.Rio de janeiro:eldorado,1973.

COLMAN, A.D.; COLMAN, L.. O Pai: Mitologia e Reinterpretação dos Arquétipos. São Paulo: Editora Cultrix, 1990.

NEUMANN, Erich História da Origem da Consciência, São Paulo: Cultrix Editora, 1995.

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

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“Quando é que eu começo a mudar?” Reflexões sobre Psicoterapia e Medo da Vida

 

(20 de junho de 2012)

Há alguns anos, quando eu ainda era recém-formado,  eu ouvi uma pergunta que me marcou, a pessoa questionou:

“Já estou fazendo terapia há algum tempo, quando é que eu começo a mudar?”

Acredito que a minha resposta na época não foi suficiente (especial-mente para mim). Assim, eu gostaria de pensar um pouco sobre essa questão. Talvez o primeiro ponto que que devemos pensar é a idéia de que “ir ao psicólogo” ou “ir a terapia” é sinônimo de “estar em terapia/análise” ou mesmo achar isso é resolução dos problemas ou conflitos. Infelizmente não é.

Qual seria, então, a diferença entre ir à terapia” ou “estar em terapia/análise”? . A primeira expressão, “ir à terapia”, aponta justamente para uma relação com o espaço de encontro com profissional. Isto é, a “terapia” restringe-se a esse espaço e a esse horário, assim, o psicólogo se torna o protagonista da “terapia”, como se o processo somente ocorresse na presença do psicólogo.

Quando falamos em “estar em terapia/análise” não nos referimos mais a uma idéia de local, mas, sim a um estado. Assim, “estar em terapia/análise” significa que a pessoa parou de culpar mundo pelo seu sofrimento, assumindo a responsabilidade por si mesmo e, especialmente, pelo seu futuro. Desde modo, a “terapia ou análise” não se restringe a presença do psicólogo ou consultório. O profissional acompanha, auxilia nesse processo de compreensão, mas, sem perder de vista o papel fundamental e o mérito é cliente. A terapia/analise é do cliente e não do psicólogo.

Assim,“estar em terapia/análise” é o primeiro passo para respondermos “quando é que eu começo  a mudar”. O passo seguinte seria compreender que racionalização não é conscientização. Acho importante essa distinção, pois, racionalização é um mecanismo de defesa, onde é criada na consciência uma explicação coerente e lógica acerca do sintoma ou problema, fazendo com que o individuo não enfrente o problema ou questão em si. Contudo, outro engano é achar que “conscientizar”, isto é, trazer um conteúdo inconsciente a consciência, seja o objetivo da psicoterapia.

Na verdade, para Jung, a conscientização envolve necessariamente uma ação. Isto é, para a conscientização ser efetiva é necessário que ela promova uma mudança na consciência. Esta mudança ou a integração de um conteúdo de origem inconsciente só é possível por uma ação voluntária da consciência. Por isso, é importante compreender que o desejo de “melhora” ou “de cura” ou “mudança” não se dá pela via passiva.

A ânsia de transformação é inerente à própria configuração do próprio inconsciente sendo idêntica ao impulso para a “individuação”. A individuação ocorre através da “conscientização”, da vivência genuína em contatos ou situações reais; não basta confiar no conhecimento teórico. Entrar em acordo com a psique objetiva depende dos esforços do analisando para compreender e testar, na experiência da vida real, os palpites e mensagens do inconscientes. (WHITMONT, 2002, p.261)

Desde modo, é essencial que o cliente se capaz de se permitir novas experiências, por isso mesmo é comum que analistas/terapeutas junguianos passem “exercícios de casa” para seus clientes, possibilitando tanto que conteúdos latentes emerjam à consciência quanto que o individuo possa ter novas experiências consigo mesmo.  É justamente nesse contexto, que Jung, no livro “A Prática da Psicoterapia”

“O que viso é produzir algo de eficaz, é um produzir um estado psíquico, em que meu paciente comece a fazer experiências com seu ser, um ser em que nada mais é definitivo nem irremediavelmente petrificado; é produzir um estado de fluidez, de transformação e de vir a ser.”(JUNG, 1999, p. 43-4)

A afirmação de Jung acerca do paciente “comece a fazer experiências com seu ser” implica justamente numa abertura ao novo, uma abertura as novas possibilidades. Essas “experiências” possibilitam que o cliente perceba em si o potencial de ir além, o potencial de cura que está em seu inconsciente e não foi integrado a sua consciência.

Esses elementos que eu indiquei “estar em terapia”, “conscientizar=ação”, e “abertura ao novo” possibilitam o desenvolvimento da psicoterapia. Por outro lado, acredito que devamos pensar um elemento crucial que está na “evitação às mudanças”, que é o “medo da vida”.

Para pensarmos o “medo da vida”, eu gostaria de citar Alexander Lowen, que discute esse tema em seu livro “Medo da  Vida”, segundo Lowen,

A neurose não é, costumeiramente, definida como medo da vida mas é exatamente isso. A pessoa neurótica tem medo de abrir seu coração ao amor, teme estender a mão para pedir ou para agredir; amedronta-a ser plenamente si mesma. Podemos explicar esses temores psicologicamente. Quando abrimos o coração ao amor, ficamos vulneráveis ao risco da mágoa; quando estendemos os braços à frente, nos arriscamos à rejeição; quando agredimos, há a possibilidade de sermos destruídos. Existe, contudo,  uma outra dimensão desse problema. Vida ou sensações de maior intensidade do que aquelas que a pessoa está habituada é algo perigoso pois que ameaça inundar o ego, ultrapassar seus limites, liquidar sua identidade. É assustador sentir mais vitalidade, ter sensações mais intensas.(….)

Queremos nos tornar mais cheios de vida, sentir mais, e temos medo disso. Nosso medo da vida se espelha em nossa maneira de nos mantermos ocupados a fim de não sentirmos, de ficarmos na correria, não nos encararmos de frente, de nos alcoolizamos ou drogarmos a fim de não sentirmos nosso ser. Por termos medo da vida, procuramos controla-la, domina-la. (LOWEN, 1986. p.11)

Muitas vezes, não compreendemos que o nosso medo da vida, nosso medo de encararmos nossa história – tanto pregressa quanto futura – está na essência de nosso sofrimento psíquico. É por isso que Jung afirma que “somente o que realmente somos tem o poder de curar-nos”, pois, quando somos realmente sinceros com nós mesmos podemos encontrar a coragem e a força necessária para enfrentar nossas próprias sombras e superar o nosso medo da vida.

Referências

JUNG, A pratica da psicoterapia, Petrópolis: Vozes, 7ed. 1999.

LOWEN, A. Medo da Vida, São Paulo: Summus editorial, 1986.

WHITMONT, Edward C. A busca do símbolo. Cultrix; São Paulo, 1995

 

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

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“Individuação Dói”–Reflexões sobre o processo de individuação e “novo nascimento”

(5 de maio de 2012)

Há pouco tempo, encontrei minha querida amiga Carolina A. Silva, numa rápida conversa, ela fez um comentário que me mobilizou bastante, ela afirmou que “Individuação doí”. Saí daquele encontro com essas palavras …”individuação dói”.

De fato, a individuação é um processo que pode ser marcado por fortes angústias e, por isso mesmo, é associado a “crise da meia idade”.  Mas, para entendermos um pouco melhor essa “crise de individuação” ou a “dor de individuação” eu gostaria de usar uma experiência pessoal como metáfora.

Quando era pré-adolescente com meus 11 ou 12 anos, eu tive uma leve fratura no tornozelo e precisei engessar, bem, eu não era uma criança não muito “ortodoxa”, assim, fiquei duas semanas com o gesso, chegando a véspera do dia que eu deveria retirar o gesso, eu optei em ir para a garagem da minha casa, enfiei o pé balde d’água e cortei o gesso. O problema foi quando eu coloquei o pé no chão, não conseguia firmar o pé, sentia um pouco de dor, e como se estivesse sem força, como se não conseguisse controlar meu pé. Durante um tempo pensei que era tinha errado, que deveria esperado mais um dia, fiquei com medo do que meu pai diria, foi um turbilhão de pensamentos, sentimentos e e sensação de dor.

Mas, com o passar das horas, com o exercício de tentar pisar. Enfim, “tomei posse” do meu pé. Essa experiência foi muito angustiante.

Acredito que essa experiência pode nos ajudar bastante a compreender nosso tema. Pois, quando falamos em processo de individuação falamos num redimensionamento da persona, no confronto e assimilação da sombra, integração da anima/us e constelação do self. Todo esse processo tomar consciência da persona e confronto com a sombra nos conduz ao conhecimento do que sou, do faço, do que vivo. Por analogia, a crise de individuação se inicia a tomada de consciência do gesso ou da vida engessada. Se por um lado o gesso protege,  por outro ele limita, tira os movimentos.

A dor da individuação começa quando nos damos conta da irrealidade em que vivemos. Quando nos damos conta que precisamos respirar, nos mover, ser. Tão difícil quanto reconhecer o gesso é retira-lo, pois, exige muito esforço. É preciso corta-lo, não dá apenas para flexibiliza-lo.

Quando retiramos o gesso, nos deparamos com uma outra realidade. O membro não “obedece”, não tem força, como se não fosse “nosso”. Ao mesmo tempo, temos a experiência de amplitude e liberdade vem o receio, estranheza… Abrindo as portas para a possibilidade das possibilidades. Acredito que essa seja uma metáfora possível para o encontro com a anima.

Quando pensamos em individuação, estamos falando de um processo de tornar-se indivisível, isto é, um processo de integração total do individuo. Essa integração implica em reconhecer que estou invariavelmente e intrinsecamente relacionado com o mundo (que muitas vezes, nós vemos, mas, não enxergamos) e por outro lado, estou profundamente enraizado em “mim mesmo”. Assim como uma árvore é nutrida pela Terra, o “eu” é nutrido pela “Self”. Note que eu não usei solo, mas, sim Terra. Pois, eu me refiro ao planeta, pois, uma árvore precisa mais do que apenas solo para crescer, precisa da chuva, precisa do ar, dos ciclos das estações do planeta em torno do sol. Da mesma forma, o Self está para muito além da compreensão individual, pois, o Self representa o potencial universal de nos tornarmos o nosso melhor, de nos tornarmos únicos.

Quando nascemos temos todo o potencial para nos tornarmos humanos. Isto é, viver como humanos, falar como humanos, nos relacionar como humanos, amar como humanos etc… no geral, a cultura nos torna humanos, molda nossa linguagem, molda a forma de nos relacionar, molda nossa moral e a forma de ser no mundo. Tudo isto é dado pela cultura. No “processo de individuação” não somos mais lançados na humanidade, mas, sim, podemos assumir a nossa humanidade e o potencial de ser “além do homem”, saindo do genérico para o único.

A individuação dói por ser um novo nascimento. Dói porque é um “libertar-se” de um gesso existencial. Dói o processo de integração e de tornar-se si-mesmo, isso implica em fazer escolhas e assumir a responsabilidade pela vida. A temática do “novo nascimento” ou “renascimento” indica exatamente o processo de individuação. Vejamos, um pouco desta esta dinâmica arquetípica

Dimensão arquetípica do renascimento.

Para pensarmos o renascimento ou novo nascimento, vamos usar para referência duas tradições que nos são próximas a cristã e a afrobrasileira, do candomblé.

Assim, na tradição cristã, um dialogo que excepcionalmente interessante em nosso contexto,

Em resposta, Jesus declarou: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo”.
Perguntou Nicodemos: “Como alguém pode nascer, sendo velho? É claro que não pode entrar pela segunda vez no ventre de sua mãe e renascer! ”
Respondeu Jesus: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito.
O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito.
Não se surpreenda pelo fato de eu ter dito: É necessário que vocês nasçam de novo.
João 3:3-7 (NVI)

Na tradição cristã, esse dialogo se constitui fundamental para se compreender aconversão(metanóia) que tem como principal marco o batismo, o novo nascimento, que vai abrir as portas para o “reino de Deus”. Apesar de todas as denominações cristãs reconhecerem a importância do batismo, cada um atribui um significado para o rito, que segundo algumas tradições simboliza a morte do velho homem e o nascimento do novo homem em Cristo.

Assim, novo nascimento ou nascimento espiritual indica simbolicamente a integração do individuo a uma realidade superior, uma integração com Deus, o homem deixa de ser criatura para ser filho. Uma vez que este passa a ser filho de Deus, podendo assim, também, participar da comunidade cristã, isto é, da Igreja de Cristo.

Por outro lado, na tradição afro-brasileira do candomblé, temos uma referência similar, pois, a iniciação não só integra o individuo ao “povo-de-santo” ou “família-de-santo”.

A iniciação, cumprindo a formalização do contrato entre individuo e divindade, marca diacriticamente o ser social em formação, uma vez que a relação estabelecida é única e individualizada. (…)

Isto se refere as etapas preliminares da “lavagem de contas”, o recebimento do colar sacralizado cujas contas são da cor da insígnia do seu orixá, ou a rituais como o bori, cerimônia mais complexa destinada a reforçar a cabeça do iniciante, que supõe um período de recolhimento e descanso do corpo, e ainda ao “assentamento do santo” quando é construída ritualmente uma representação e são sacralizados objetos que representam o orixá associado ao fiel.

Entendemos que a construção social da pessoa no candomblé expressa, dessa forma, tanto o processo de individuação como o de integração social. (BARROS e TEIXEIRA, 2000, p.110-112)

No candomblé a iniciação é um processo longo, onde tudo na vida do iniciado será mudado, inclusive seu nome como será conhecido pelo povo-de-santo. Devemos observar que na iniciação do candomblé o fiel e passará a ter uma série de obrigações com seu orixá e com a casa onde ele passará a pertencer.

Tanto no cristianismo como no candomblé o novo nascimento no desenvolvimento de uma relação vertical ( isto é, com a divindade) e uma relação horizontal (com a comunidade dos fiéis). Acredito que esses dois elementos – a relação com o divino e com o social – são fundamentais, pois, implicam numa mudança ou transformação da atitude do individuo tanto em sua intimidade (na relação com o divino) quanto no aspecto público. No candomblé isso é ainda mais visível, pois, após a iniciação o yàwó deve respeitar uma série de restrições alimentares, sexuais, da cor da roupa. Ao devoto as mudanças ou a transformação que ele atravessa pode não ser interpretada de como sofrimento, dado o significado interior, contudo, para quem não participa desse símbolo, percebe há um sofrimento envolvido. Por outro lado, no cristianismo, não é sem razão que Cristo afirma “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Mt 16:24

Destaquei, esses dois ritos ou símbolos do cristianismo e do candomblé. Justamente porque em nossa cultura brasileira somos atravessados por essas duas matrizes. Conscientemente, somos cristãos, agimos, sentimos, pensamos como cristãos. Contudo, inconscientemente, estamos irremediavelmente imbuídos da tradição negra (ou vice-versa) Mesmo que nunca tenhamos pisado ou sonhado em pisar num terreiro, a força e o ímpeto negro de preservar sua identidade cultural (que formou candomblé) chega até nós através de nossa música, literatura, nossa língua, nossa culinária, nossas festas. E, até mesmo, na forma como cultuamos no cristianismo. Somos atravessados pelo sincretismo.

Vida Significativa e Vida Simulada

No contexto das religiões citadas, o batismo e a feitura de cabeça são rituais de passagem de uma vida profana, vulgar para uma vida significativa, espiritual em contato com uma realidade maior. Onde tudo é significativo.

No contexto do processo de individuação saimos de uma vida simulada, isto é, uma vida falseada seja pelos medos, seja pelas exigências externas – o “ter que agradar os outros” – para um vida significativa, onde, o individuo está inteiro em cada ação. Esta integração abrange tanto a relação do individuo consigo mesmo quanto a relação com o mundo externo, sendo marcada por uma profunda coerência.

O processo de individuação não termina. É uma constante. Escolher muitas vezes gera angústia. E, isso dói. Contudo, a dor, a tristeza, o medo e a saudade fazem parte da vida. A diferença que quando falamos de individuação, falamos em atravessar a dor e não em ficar presos na mesma, são apenas momentos existênciais, que já não podem ser negados.

Quem pensa por si mesmo é livre
E ser livre é coisa muito séria
Não se pode fechar os olhos
Não se pode olhar pra trás
Sem se aprender alguma coisa pro futuro

(Renato Russo, L´Aventura)

Referências bibliográficas

BARROS, José Flávio Pessoa de; TEIXEIRA, Maria Lina Leão. O código do corpo: inscrições e marcas dos orixás. In: MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de (org.).Candomblé:religião do corpo e da alma: tipos psicológicos nas religiões afro-brasileiras. Rio de Janeiro: Pallas, p. 103-38, 2000

Nota : Apesar de não ter feito uma citação explicita, indico sobre o candomblé o blog “Candomblé – o mundo dos Orixás”http://ocandomble.wordpress.com/  , do qual sou leitor e admirador. Lá você poderá encontrar informações excelentes acerca desta religião.

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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Membro da International Association for Jungian Studies(IAJS). Formação em Hipnose Ericksoniana(Em curso). Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 9316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

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