“Enfim, não é apenas o passado que nos condiciona, mas, também o futuro, que muito tempo antes já se encontra em nós e lentamenta vai surgindo de nós mesmos.” (Jung, O Dsenvolvimento da Personalidade, p. 115)
“A verdadeira causa da neurose está no hoje, pois ela existe no presente. Não é de forma alguma um caput mortuum que aqui se encontra, vinda do passado, mas é nutrida diariamente e, por assim dizer, sempre de novo gerada. Somente no hoje e não no ontem será “curada” uma neurose. Pelo fato de nos defrontarmos hoje com o conflito neurótico, a digressão histórica é um rodeio, quando não um desvio.”(Jung, Civilização em Transição, pr. 369)
No cotidiano da psicoterapia sempre estamos em contato com o passado e o futuro. Com a dor do passado e o medo (de uma nova dor) ou esperança no futuro. O fato é, que o passado e o futuro sempre se encontram no hoje, no presente.
Através do passado podemos compreender a história do paciente, o desenvolvimento da neurose, os afetos relacionados aos complexos. Assim como as defesas que foram erigidas tanto para estancar o medo, a dor e sofrimento, quanto evitar que eles sejam relembrados e/ou repetidos. É importante lembrar, que as defesas atuam não só para “bloquear”ou esquecer os fatos ocorridos, mas separar a memória dos afetos/sentimentos – tornando a lembrança esvaziada de significado.
Mesmo que haja a narrativa do fato, do conhecimento que foi um evento com profundo sofrimento, o fato de falar sobre o acontecido, não signfica elaboração.
Por outro lado, o futuro é uma tela em branco, e quem já enfrentou uma tela em branco sabe como ela pode ser ameaçadora com todo potencial de criação e, ainda assim, vazia. O futuro é ambivalente, por um lado tão incerto e desconhecido que, diante da menor possibilidade de sofrimento nos defendemos e nos esquivamos dele; por outro ele traz também a possibilidade de mudança, esperança e transformação.
O passado e o futuro se encontram no hoje. Isso quer dizer que quando falamos do passado, de eventos traumáticos ou das defesas, podemos encontra-las no hoje: nas escolhas que fazemos (ou deixamos de fazer), nos relacionamentos que mantemos (ou nos afastamos), na forma como nos esquivamos da terapia, ou na crença que há algo no passado que “precisa ser descoberto” . Nessas situações nutrimos, revivemos e fortalecemos as condições que nos mantém presos no sofrimento desde o passado.
Por isso Jung afirma que a neurose é curada no presente. Na escolha voluntária, na confiança e na construção de recursos que possibilitem as novas escolhas, no amadurecimento e fortalecimento do ego encontramos o potencial de transformação que permitem conscientizar as defesas, abrir-se à elaboração simbólica do passado, favorecendo a construção de uma ponte segura para um futuro íntegro.
Devemos considerar que o passado é especialmente importante para o analista compreender o presente, o que foi afetado e o que precisa ser trabalhado no presente. E, por isso, nem sempre faz sentido ao paciente, que pode ficar achando que faltou algo no passado, algum trauma “perdido” é uma forma de resistir ao futuro, perdendo de vista os avanços que foram construído sno hoje e as possibilidades de vir a ser no amanhã.
Gostaria de terminar com a imagem que inspira o título, para entendermos a importância do presente diante do passado e do futuro. Se pegarmos uma árvore que foi cortada e, depois de algum tempo, um novo broto se erge, o que é mais importante? Cuidar do broto ou procurar o machado que fez o corte?
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Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)
Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Pós-graduando em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos” Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.
Contato: 27 – 99316-6985. / e-mail: fabriciomoraes@yahoo.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes /Instagram @fabriciomoraes.psi