Curso “Fundamentos da Clínica Junguiana” – Turma 6

Chegamos à VI Turma do curso de Fundamentos da Clínica Junguiana!

A clínica junguiana apresenta uma rica diversidade de métodos e técnicas. Nesse curso vamos trabalhar os aspectos fundamentais que possibilitam vivenciar essa diversidade. Integrando percepções clássicas de Jung às contribuições da escola desenvolvimentista e trazendo uma discussão contemporânea acerca da clínica junguiana. Nesse curso serão abordados:

O Setting Junguiano e Atitude Analítica

Estágios e fatores que contribuem para análise junguiana

A transferência e Contratransferência

A interpretação junguiana

Resistência e fim de Análise.

Reflexões sobre a sombra do analista

✅ Datas: 14, 21, 28 de janeiro; 11 e 18 de fevereiro de 2025 (serão 5 encontros)

✅ Horário: das 20h às 22h

✅ Investimento:
1º Lote até dia 10 de dezembro 2024.
Profissionais: 320,00 reais à vista (pix) ou 360,00 em até 10x no cartão
Estudantes de graduação: 240,00 reais à vista (pix) ou 280,00 em até 10x no cartão.

2º Lote até 14 de janeiro 2025.
Profissionais: 370,00 reais à vista ou 420,00 em até 10x no cartão
Estudantes de graduação: 290,00 reais à vista ou 330,00 em até 10x no cartão..

**** Para estudantes é necessário enviar comprovante de matricula****

✅ Com certificado de 10h/aula

✅ O curso será on-line, ao vivo e os encontros acontecerão na plataforma Zoom. Os encontros serão gravados e disponibilizados por 30 dias, após do término do curso

✅Maiores informações: e-mail (contato@cepaes.com.br) e/ou whatssapp/telefone (27 99926-7779)

✅ Com certificado.

✅ Inscrição: https://forms.gle/98Tc4ZMPHdqhqSfV8

✅ Mais informações: contato@cepaes.com.br ou (27) 99926-7779.

✅ Vagas Limitadas!

✅ Coordenador do curso:

✅ Fabrício Fonseca Moraes (CRP 16/1257). Psicólogo clínico junguiano graduado pela Ufes. Especialista em Psicologia Clínica e da Família pela Faculdade Saberes; especialista em Teoria e Prática Junguiana pela Universidade Veiga de Almeida e especialista em Acupuntura Clássica Chinesa IBEPA/FAISP;. É professor e diretor do CEPAES. Atua desde 2004 em consultório particular

Publicado em Uncategorized | Com a tag , , , , , | Deixe um comentário

Pensando a Depressão pela Psicologia Analítica Desenvolvimentista

Nota: Este texto foi escrito a partir da palestra realizada no encontro do CEPAES “Amplificando Jung: A clínica Junguiana das Depressões” de 30/11/2024.

A depressão foi declarada pela OMS o Mal do Século XXI, assim como a melancolia foi concebida como o Mal do Século XIX. O Século XX foi inicialmente marcado pela melancolia, mas ao decorrer do século, cedeu espaço à depressão. Em nosso cotidiano, a depressão se tornou um termo tão coloquial que,com frequência, vemos sendo usado sinônimo de tristeza.

Para o clínico, pensar a depressão é pensar a clínica da depressão, compreendendo seus aspectos psicodinâmicos, variações e possibilidades – para além da perspectiva descritiva vigente na psiquiatria.

Um vislumbre da depressão no mito e religião

Apesar de ser descrita no século XIX, o processo depressivo sempre circundou a humanidade. De forma bem resumida, gostaria de fazer três alusões à depressão retratadas nas narrativas míticas e religiosas.

Na mitologia grega, temos um momento mito de Deméter onde, após o rapto de Kore, ela sai a vagar pela terra, por 9 dias e 9 noites – sem comer, beber, dor, ate encontrar com Hécate. Hécate levou Deméter a Hélio, que lhe revelou o acontecido. Deméter vaga até chegar a Elêusis, assumindo a forma de uma mulher idosa, e veio a se tornar babá do príncipe recém-nascido, ao qual tentou tornar imortal. Após ser descoberta e se revelar como Deméter, ordena a construção de um templo e se recolhe, tornando-se reclusa, trazendo longo ano de fome à terra, até que Zeus intervém junto a Hades, possibilitando o reencontro com Perséfone.

No mito grego, a perda da filha, uma experiência de luto fez com que Deméter se tornasse errante, triste, sem se alimentar, sem dormir, reclusa e indiferente às suas “funções”, trazendo infertilidade e fome à terra.

Na tradição judaico cristã, o profeta Elias, uma das figuras mais importantes do antigo testamento, atravessou um quadro depressivo (comentamos extensivamente no texto Revisitando o texto Depressão, Preconceito e Elias” ). Na narrativa bíblica, após protagonizar a disputa que levou ao milagre do fogo descer do céu, comandar o massacre dos 450 profetas de Baal, Elias esperava uma conversão do povo de Israel que não aconteceu,- pelo contrário, ele foi sentenciado à morte pela Rainha Jezabel. Com medo da morte, ele foge para o deserto, caminha longamente, e à sombra de uma giesta ele para e, sem comer nem beber, desejando a morte, ele ora e pede que Deus lhe tire a vida e dorme. Deus envia um anjo que ordena que ele coma e beba, para seguir seu caminho. Ele chega ao Monte Horebe (o mesmo que Moisés recebeu as tábuas da lei), entra em uma caverna e aguarda, após Deus se revelar, ele retorna ao seu caminho e cumpre o que lhe fora ordenado.

Nesse recorte, temos que a frustração vivenciada por Elias o leva à uma situação condizente com o que vemos no quadro depressivo com o isolamento, alteração no sono e alimentação, desejo de morte.

Na Alquimia, nigredo é a fase mais destrutiva que representa sobretudo a derrota do ego, a redução e humilhação. Esse processo leva consideração de si e a relação com a realidade que é superior. Nas diferentes operações alquímicas pertencentes a nigredo o confronto com o limite e com a realidade superior, trazia ao alquimista o sentimento de esvaziamento e desesperança. A busca pelo conhecimento, pela pedra filosofal passava pelo trabalho solitário, frustrante e continuo que muitas vezes passava pela depressão, como muitas imagens retratam.

A depressão na psicologia analítica

Na obra de Jung há algumas menções à depressão mas sem uma definição, delimitação ou conceituação – da mesma forma, grande autores junguianos abordam o tema de diferentes formas, no geral seguindo o modelo descritivo de Jung, que podemos apontar quatro categorias gerais:

  • Dinâmica Energética: A depressão seria a manifestação ou resultado de uma regressão da energia psíquica, isto é, a energia é recolhida ao inconsciente, ficando como se represada, gerando esvaziamento da consciência e o empobrecimento simbólico. Essa perspectiva é a mais descritiva e aberta às possibilidades de pensar as dinâmicas do inconsciente – sendo a base, associada a todas as outras.
  • Compensação: A depressão pode indicar uma atitude compensatória do inconsciente frente à atitude unilateral da consciência. A unilateralidade da atitude da consciência pressupõe uma negligência em relação ao inconsciente, que mobiliza a energia no inconsciente a fim de equilibrar a dinâmica psíquica. A partir dos símbolos (sonhos, sintomas) pode-se vislumbrar tanto o caminho da energia, como qual complexo ativado e qual a atitude consciente compensada.
  • Alienação do eixo ego-Self: A alienação é um estado de estranhamento e afastamento da relação do ego com o Self. É um termo inserido por Edinger para descrever o conflito entre a consciência e o inconsciente. No estado de alienação, o ego distanccia e se torna incapaz de se relacionar de forma saúdavel, criativa e nutritiva com Self.
  • Estratégia adaptativa e individuante: A depressão está associada ao processo de individuação, com a retirada de energia da consciência, possibilitando uma adaptação mais adequada às mudanças interiores, potencializando os processos arquetípicos do desenvolvimento que estariam por vir, trazendo a atenção aos processos interiores do Self.

Obviamente, não há como negar a importância da perspectiva clássica acerca da depressão. A partir desses fatores, temos uma descrição do processo (dinâmica energética), causas (compensação e alienação do eixo ego-self) e objetivo (movimento de individuação). Haveria ainda a possibilidade de considerar a depressão como uma expressão legítima da alma, não sendo pensada no campo da psicopatologia, mas precisando e revista e reimaginada – indo mais próximo da psicologia arquetípica.

Uma perspectiva psicodinâmica

Para compreender o processo da depressão na clínica é importante ampliarmos nossa percepção em direção à perspectiva psicodinâmica, que complementa a perspectiva descritiva. Nessa aproximação, vamos utilizar do pensamento da psicanalista Marion Minerbo que nos chama atenção à depressão a partir de sua diversidade de manifestações, pois “podemos reconhecer infelicidades diferentes produzidas por núcleos inconscientes distintos. Estes irão se manifestar na transferência com características próprias e exigirão estratégias terapêuticas específicas” (MINERBO, 2020).

Nesse sentido, Minerbo nos convida à uma leitura da depressão a partir de núcleos inconscientes de infelicidade, dos quais depreende os três tipos de depressão, a saber: a) a depressão com tristeza, b) depressão sem tristeza e a com melancolia. A descrição feita por Minerbo é muito útil para pensarmos os processos dinâmicos pela psicologia analítica.

a) A depressão sem tristeza

Minerbo descreve a depressão sem tristeza como uma categoria que se esquiva ao diagnóstico médico, ou seja, no geral não é diagnosticada, pois o sofrimento está dissociado do significado. Assim, Minerbo descreve a depressão sem tristeza:

Há um tipo de infelicidade difusa, muito próxima do tédio. A experiência subjetiva não é propriamente de tristeza, mas de vida vazia, estéril, burocrática, sem criatividade psíquica, colada à concretude das coisas. Nesse contexto de pobreza simbólica o futuro está bloqueado pela incapacidade de criar um ideal a ser investido. (…)

Clinicamente, o núcleo inconsciente pode estar menos ou mais tamponado (compensado) por defesas eficazes.(…). A tristeza está ausente porque o sujeito se cortou de sua vida psíquica, e o sofrimento foi “solucionado” pela via somática.​
Proponho ampliar essa ideia para os quadros em que a pessoa também se amputou de sua vida psíquica, mas em vez de somatizar, usou defesas comportamentais: adições, compulsões, transtornos alimentares, hiperatividade, violência, perversões. Essas pessoas não procuram análise por estarem deprimidas, mas por causa dos sintomas mencionados. De modo geral, sentem que “algo” não vai bem em sua vida, e descrevem, à sua maneira, o que chamei de infelicidade difusa. Reconhecemos aí a angústia branca descrita por Green.” (MINERBO, 2020, p.162-3)

A exposição de Minerbo nos auxilia a compreender quadros complexos onde o esvaziamento da vida se manifesta sem se caracterizar propriamente a depressão como diagnóstico, colocando o profissional em dúvida. Isso é especialmente válido quando falamos de casos limites ou limitrofes que apresentam uma organização psíquica peculiar, mesclando elementos de defesas neuróticas e psicóticas. Isso é importante pois são pacientes que chegam à análise em função de defesas comportamentais ou conflitos relacionais. Um aspecto marcante nesses casos é literalidade e superficialidade dos relatos apresentados por esses pacientes, como se não houvesse um mundo interior.

Minerbo aponta esse modo como esses pacientes vivenciam a si mesmos, a realidade exterior como característica da predominância do pensamento operatório – que é próximo ao que Jung descrevia à unilateralidade da atitude da consciência. Acerca do pensamento operatório, Malagaré afirma

O pensamento operatório é um pensamento consciente destituído de subjetividade e desejo, sem ligação com o fantasiar ou o simbolizar, como se tivesse perdido a ligação com a fonte pulsional. Um pensamento de sobrevivência. Esse pensamento está submetido ao “de fora”, voltado para a realidade exterior, ligado a coisa s e não a conceitos abstratos. Esse conceito sugere precariedade da função psíquica, indicando um processo de investimento de nível arcaico. (MALAGARÉ, 2020)

Podemos encontrar a similaridade da “depressão sem tristeza” com a teoria junguiana do trauma descrita Donald Kalsched. As experiências traumáticas vividas (agudas ou crônicas) que abalam o ego fragilizando-o. Este, incapaz de lidar com essas vivências que ultrapassam sua capacidade de elaboração, ativa as defesas arquetípicas, também chamadas de defesas do Self. Essas são defesas primitivas, basais, que buscam proteger o Self da devastação da experiência traumática, neutralizando a percepção da experiência, utilizando mecanismos dissociativos, e assim o atacando os processos vinculares (internos e externos), gerando uma profunda dissociação que afeta a capacidade criativa e relacional do individuo, impedindo o desenvolvimento da individuação. Acerca da dissociação, Jean Knox comenta que

A dissociação atinge o coração desse processo fundamental pelo qual se desenvolvem novos significados e novos simbolismos, impedindo o reconhecimento da semelhança e da diferença entre um novo evento e a experiência da passado, entre o conhecimento consciente, explícito e inconsciente, implícito, entre cognição e emoção e, por fim, entre o eu e o outro. Um sistema rígido de defesa é elaborado, impedindo qualquer expressão de agência. Essa negação de si mesmo ou a auto-agencia dos outros é um processo que se baseia em um ataque fundamental e de amplo alcance aos processos de criação de significado da mente humana, descritos por Bion (1965/1977, p. 54) como “vinculação” e por Jung (1970) como a função transcendente. Tanto a função transcendente quanto a e a vinculação descrevem a capacidade da mente de formar conexões entre os conteúdos mentais, e é essa e é esse processo fundamental de criação de significado que é inibido pela dissociação. (KNOX,2011, p.103)

A inibição defensiva da função transcendente, utilizando o termo de Knox, diminui tanto a capacidade de simbolizar quanto de elaborar símbolos, de modo que o indivíduo não consegue se relacionar com a matriz nutridora do inconsciente, que está protegida ou encapsulada pelos processos defensivos. Esse esvaziamento energético e de sentido coloca o paciente em uma existência repetitiva e longe da possibilidade de individuação.

Essa depressão é identificada através do campo transferencial, onde tanto o analista quanto paciente são confrontados com a desvitalização presente como pano de fundo, para além dos sintomas decorrentes das somatizações e defesas comportamentais. Se torna fundamental verificar a história do paciente, as defesas e a organização do ego . O pensamento operatório expressa as defesas ativadas desde a infância, mantendo as formas de sofrimento no nível pré-simbólico ou psicóide, não podendo ser representados ou “imaginados”.

(…) analista e analisando podem experimentar não apenas um esgotamento emocional, mas também estados que não podem ser considerados nem mentais nem físicos. Em vez disso, são um pouco de cada e são conhecidos de maneira mais pungente em um sentimento de dor que parece não ter limite. Muitos experimentam essa dor na região do peito, como um estado em que o Outro – pessoa ou Deus – está ausente. Não há nada além de uma agonia de pavor, uma experiência que beira uma não experiência e leva muitos a acreditar que estão, nesse terrível inferno interior, afligidos por sentimentos e percepções não assimilados de uma vida inteira. Esses estados não metabolizados ocorrem sem imagens, apenas com dor e terror perante sua aparente infinidade. Esse nível recorda a noção de Jung de que a psique se estende ao longo de estados delimitados pelo “nível psicoide”, um espectro definido e limitado por uma extremidade vermelha do processo instintivo e somático e uma extremidade violeta do processo mental e espiritual. (SCHWARTZ-SALANT, 2024, 93)

b) A depressão com Tristeza

A segunda categoria de depressão descrita por Minerbo corresponde à maioria dos diagnósticos de depressão que vemos no cotidiano clínico.

Outro tipo de infelicidade aparece como desempoderamento generalizado. A experiência subjetiva é de não dar conta da vida. Há grande dependência em relação a um objeto que funciona como muro de arrimo para o eu. Essas pessoas vivem as sujeitadas, com medo de perder o objeto e desmoronar. Por isso não têm autonomia psíquica suficiente para sustentar projetos, desejos, opiniões. O futuro está bloqueado porque não conseguem ser sujeitos da própria vida.(p 162) (…)

A depressão com tristeza ou narcísica se manifesta como desmoronamento do eu pela perda do objeto de apoio, objeto que estou chamando de muro de arrimo do eu (Bleichmar, 1983; Freud, 1914/1969c). A perda desse objeto lança o eu numa condição de impotência e desamparo.​
(…)É nesse campo intersubjetivo que o sujeito se torna tão desempoderado e tão dependente do objeto, já que sua autonomia lhe foi sequestrada por suas (do objeto) necessidades narcísicas. Como resultado, sujeito e objeto precisam desesperadamente um do outro para não desmoronar.​
O sujeito se deprime porque sua existência fica limitada a lutar para não perder o objeto do qual depende, e ao mesmo tempo lutar para se desvencilhar do objeto que depende dele.”(MINERBO, 2020, p. 163)

Na depressão com tristeza, encontramos similaridades com as concepções mais clássicas junguianas, compreendendo o esvaziamento energético, a compensação pela identificação projetiva e introjetiva associada aos complexos. Contudo, os apontamentos de Minerbo são fundamentais por fazer uma ponte sobre uma das principais lacunas deixadas pela teoria junguiana clássica: o ego.

Na perspectiva junguiana é comum falarmos da compensação em seu aspecto redutivo, quando a atitude do inconsciente visa mudar a atitude da consciência seja pela retirada da energia psíquica, pela formação de sintomas ou através de sonhos. Essa é uma forma de compensação, outra seria a compensação prospectiva na qual o inconsciente acrescenta ou sustenta a atitude consciência – essa compensação é perceptível nos sonhos e nos símbolos, especialmente do Self, que reorganizam a consciência. Nessa dimensão, Minerbo chama atenção para o fracasso do processo compensatório, onde o ego fragilizado perde seu elemento de sustentação.

A metáfora da Minerbo é fantástica, excepcional, onde a relação com o objeto se coloca como um “muro de arrimo”, e sua perda o ego “desmoronaria” deixando o indivíduo impotente e desamparado. Nesse cenário, pela perspectiva junguiana, podemos compreender tanto a identidade do ego quanto o complexo quando a projeção do complexo compensariam a imaturidade e deficiência adaptativa do ego. Em outro nível, temos um processo similar de identidade e projeção que envolvem imagens arquetípicas, em especial da Anima e Animus – amplamente descrita na literatura junguiana. Neste caso da perda do objeto é vivida como a “perda da alma”, expondo o vazio e fragilidade compensadas pelas dinâmicas arquetípicas. A depressão é resultado da insuficiência da compensação ou mesmo da ruptura da compensação pela perda do objeto.

As relações de co-dependência, os relacionamentos adoecidos podem ser enquadrar nessa perspectiva onde o paciente “sabe” que o relacionamento/objeto lhe faz mal, contudo não consegue se desvencilhar dele, que pode agravar o conflito interno a dimensões dramáticas. É necessário o amadurecimento do ego para ele possa lidar com a perda e enfrentar a realidade.

b) A depressão com melancolia

A terceira categoria apresentada por Minerbo é da depressão com melancolia, cuja vivência subjetiva é descrita como

Uma terceira forma de infelicidade aparece como autodepreciação. A certeza d e não ter valor para o objeto vem junto com a vergonha de ser e de existir, agravada pelo sentimento de culpa pelo próprio fracasso. A vivência subjetiva é de que nada adianta nada, porque nunca será digno e merecedor do amor do objeto. Aqui o futuro aparece bloqueado pela certeza de que nenhuma conquista fará brilhar os olhos do objeto (MINERBO, 2020,p. 162)

O sentimento ausência de valor, de fracasso e profunda autocrítica marcam essa vivência da depressão com melancolia. Nesta categoria também vemos uma profunda relação com a teoria junguiana do trauma, com a manifestação do sistema arquetípico de autocuidado como uma “voz interior” crítica e opressiva. Muitas vezes nos referimos à formulação de Kalsched associada a “trauma preococe”, pois é o enfoque de sua obra “O mundo interior do Trauma”, contudo as formulações são aplicadas em outros momentos do desenvolvimento em situações traumáticas como relacionamentos abusivos, burnout, transtorno de estresse pós-traumático, perdas significativas, dentre outras.

“Como se sabe, na depressão melancólica o super-eu odeia e critica o eu de forma cruel (Freud, 1917/1969b). Identificado a essa instância, o sujeito é tomado pela certeza de não merecer o amor do objeto, certeza essa que é primária, inabalável e refratária aos testes de realidade. “Simplesmente não sou o que deveria ser para merecer esse amor.”​
Proponho considerar essa certeza como um microdelírio cuja função é dar sentido ao absurdo do desinvestimento pela mãe morta (Green, 1988), ou pior, ao investimento negativo por parte do aspecto paranoico do objeto (Minerbo, 2015).​
A busca pela perfeição, tão comum nesses pacientes, é secundária, e revela a tentativa desesperada de merecer seu amor. “Se/quando eu for perfeito, ele me amará.” Quando essa esperança é perdida, mergulha-se na melancolia.(MINERBO, 2020, 163-4)​

Nós junguianos costumamos ter uma certa resistência quando se fala de super-eu ou superego, que é um conceito clássico no campo psicanalítico, isso ocorre tanto por haver uma resistência a imagem de Freud, quanto por não termos um conceito exatamente correlato ao superego. Isso porque na cartografia junguiana da psique diferentes instâncias/conceitos abarcam as funções do superego, como a persona, os complexos parentais negativos, anima e animus, o sistema arquetípico de autocuidado (defesas do self), que internalizam a consciência coletiva, trazendo uma imagem idealizada para ego, com aspectos de moralidade. Do mesmo modo, internalização da autoridade parental e, em determinadas situações, todas essas instâncias podem mobilizar pensamentos e sentimentos críticos e opressivos em relação ao ego.

Quanto mais frágil ou imaturo for o ego, maior será a força dessas instâncias que o tornam o dependente, gerando divisões no ego, tornando-o incapaz de se relacionar com o Self. Edinger chamou esse estado de alienação do eixo ego-self

O Si-mesmo, na qualidade de centro e totalidade da psique, capaz de conciliar todos os opostos, pode ser considerado o órgão de aceitação par excellence. Como inclui a totalidade, ele deve ser capaz de aceitar todos os elementos da vida psíquica, por mais antitéticos que possam ser. O sentimento de ser aceito pelo Si-mesmo dá ao ego força e estabilidade. Esse sentimento de aceitação é o veiculado para o ego através do eixo ego-Si-mesmo. Um sintoma de danificação desse eixo é a falta de auto-aceitação. O individuo sente que não merece viver ou ser o que é. A psicoterapia oferece à pessoa que passa por isso uma oportunidade de enfrentar a aceitação. Em casos bem-sucedidos, essa experiência pode equivaler a um reparo do eixo ego-Si-mesmo que restabelece o contato com as fontes internas de força e de aceitação – o que deixa o paciente livre para viver e crescer. (EDINGER,1992 p. 69.)

A alienação do Self ou a ruptura do eixo ego-self pode ocorrer em diferentes momentos da vida, contudo, nos casos mais graves encontrar suas raízes na infância. Minerbo cita o “desinvestimento pela mãe morta”, essa é uma referência ao complexo da mãe morta descrito por André Green, que aponta a situações onde a mãe é impossibilitada de investir na criança – por estar num processo depressivo ou enlutada – essa ausência de investimento, de brilho nos olhos, se tornando um desinvestimento narcísico no ego. Contudo, o complexo da mãe morta indica uma falha fundamental na representação do Self, que tem na mãe o primeiro objeto, mantendo o Self em seu aspecto primitivo, pré-simbólico. Sem ter um campo relacional/emocional suficientemente bom, o processo deintegrativo do Self é prejudicado, afetando o desenvolvimento ego, que na ausência de representação saudável, se identifica com o vazio.

Essa perspectiva nos coloca diante do trauma precoce fundamental – que ao longo da vida levará à busca por aceitação, por não ter uma relação adequada com o Self transformacional A depressão com melancolia aponta para uma perda essencial do ego, que em sua incapacidade de afirmação ou autopercepção positiva se encontra sempre na busca pelo objeto transformacional, que lhe possibilite a sensação de integridade e totalidade. A busca pela “perfeição” ,por um lado, é a necessidade se sentir pertencente, de “estar em si mesmo”; por outro, a indica a busca pela totalidade, de se sentir integral.

Discutimos um pouco dessa temática no texto “Sobre o Complexo Materno – uma perspectiva desenvolvimentista” .

Considerações finais

A depressão é um termo que abriga muitas manifestações e formas de organização da psique que envolvem o empobrecimento simbólico e a regressão da energia psíquica. É através da relação transferencial que podemos vislumbrar o caminho percorrido pelo paciente em sua depressão e quais as possibilidades de desenvolvimento.

No trabalho analítico, encontramos no rêverie(vide o texto Função Transcendente ao Rêverie) um fundamento importante para trabalhar com pacientes que estejam comcapacidade simbólica prejudicada, como é o caso da maioria dos pacientes deprimidos, o rêverie é como uma janela através da qual podemos ver e acessar os conteúdos da transferência – assim como os conteúdos do analista mobilizados na contratrasferência. Deste modo, o rêverie está intimamente relacionado com a atitude simbólica do analista que torna possível a compreensão da contratransferência e viabilizar a integração dos conteúdos do paciente. Sobre a atitude simbólica Jung afirmou

Esta atitude que concebe o fenômeno dado como simbólico podemos denominá-la atitude simbólica. Só em parte é justificada pelo comportamento das coisas; de outra parte é resultado de certa cosmovisão que atribui um sentido a todo evento, por maior ou menor que seja, e que dá a este sentido um valor mais elevado do que à pura realidade. (Jung, 2012, p.480)

A partir de sua vivência simbólica, o analista pode emprestar suas imagens e símbolos que mobilizados pela transferência, que serão simbolizados pelo paciente. A própria atitude simbólica será introjetada pelo paciente, como uma forma de vivenciar seus próprios conteúdos que se tornaram manifesto pela análise.

As depressões são desafiadoras porque nos impregnam de vazio, de elementos pré-simbólicos transferidos pelo paciente e que drenam nossa energia. A atitude simbólica e o reverie nos possibilitam “ver” o campo transferencial, preencher “os vazios” e metabolizar elementos inconscientes e pré-simbólicos transferidos, dando continência, forma e sentido para que sejam simbolizados e compartilhados com o paciente, num longo processo de integração e amadurecimento do ego.

Referências Bibliográficas

EDINGER, Edward F. Ego e Arquétipo, SP, Cultrix, 1992

JUNG, C.G. Tipos Psicológicos, Petrópolis: Vozes, 2012.

KNOX, Jean, Self-agency in psychotherapy: attachment, autonomy, and intimacy, New York, W. W. Norton & Company, 2011. (ediçãodigital)

MINERBO, Marion. Depressão sem tristeza, com tristeza e melancólica. Rev. bras. psicanál,  São Paulo ,  v. 54, n. 4, p. 160-176,  dez.  2020 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0486-641X2020000400013&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  10  nov.  2024.

MELGARE, Celso Perez. A psicossomática, laços da teoria de Pierre Marty e André Green. Estud. psicanal.,  Belo Horizonte ,  n. 54, p. 131-139,  dez.  2020 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372020000200013&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  20  dez.  2024.

SCHWARTZ-SALANT, Nathan, O Mistério das Relações Humanas, Vozes: Petrópolis, RJ, 2024.


________________________________________________________________

Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador de Grupos de Estudos Junguianos. Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985.

e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br

Instagram @fabriciomoraes.psi

Publicado em Clinica Junguiana, Uncategorized | Com a tag , | Deixe um comentário

Estados Limítrofes ou Borderline e a Psicologia Analítica

Na psicologia analítica não costumamos falar de estados ou casos limites, limítrofes ou borderline; contudo, esses são casos que cada vez mais se apresentam no cotidiano da prática clínica. São casos cuja complexidade podem gerar dificuldades até mesmo para os psicoterapeutas mais experientes, pois mesclam aspectos psicóticos e neuróticos, apresentando, com frequência, uma perda da autonomia do ego e um estado de indiferenciação ou fusão com objetos internos ou com objetos externos.

A complexidade de diagnóstico e o desafio do tratamento se acentuam por não termos ampla literatura junguiana que abordem esses casos. Apesar disso, os casos-limítrofes foram apontados na obra de Jung, não como “casos limítrofes” exatamente, mas sob a noção imprecisa de ‘psicose latente”.

Assim como as histerias crônicas, que fazem definhar os doentes lentamente nos hospícios não são características da histeria verdadeira, assim tampouco o é a esquizofrenia com relação às suas formas tão frequentemente vistas no consultório e que raramente chegam às mãos do psiquiatra de hospício. “Psicose latente” é um conceito que o psicoterapeuta conhece demasiadamente bem, e teme. (JUNG, 1999, p. 34 – nota 2)

Psicose latente era uma expressão vaga que abordava tanto casos neuróticos graves quanto eram similares à psicose ou esquizofrenia. Para entendermos a relação da psicose latente e os casos limites ou limítrofes, precisamos compreender a evolução histórica do conceito de borderline. DALGALARONDO E VILELA (1999) apresentam uma evolução do conceito de borderline (ou limítrofre), como podemos ver na tabela abaixo,  

Jung também menciona em sua obra a expressão “esquizofrenia latente” como era utilizada pelo seu antigo mentor, Eugen Bleuler. Os casos limítrofes são amplos e se restringem ao auto diagnóstico Transtorno de Personalidade Borderline”(TPB) do DSM, mas envolve um amplo espectro com formações que abarcam transtornos alimentares, neuroses obsessivo-compulsivas, adições, algumas somatizações e quadros traumáticos – o TPB seria caso mais acentuado onde as dinâmicas defensivas são predominantes. Nessas situações, o ego encontra-se fragilizado, incapaz de se manter organizado, reflexivo e funcional; e, assim, incapaz de suportar a tensão com o inconsciente ou mesmo com a realidade exterior.

Na literatura junguiana, temos essa perda de funcionalidade do ego fragilizado associada à possessão ou identificação por conteúdos do inconsciente.

Jung e a Possessão pelo Complexo/Arquétipo

Jung adotava uma metodologia mais descritiva do que propriamente psicodinâmica. Dessa forma, descrevia situações onde o caráter impulsivo e/ou compulsivo dos arquétipos e complexos, que geram estados indiferenciados, como possessão pelo complexo ou arquétipo.

Neste caso não se trata de ampliação nem de diminuição, mas de uma modificação estrutural da personalidade. Menciono como forma principal o fenômeno da possessão, o qual consiste no fato de um conteúdo, qualquer pensamento ou parte da personalidade, dominar o indivíduo, por algum motivo. Os conteúdos da possessão aparecem como convicções singulares, idiossincrasias, planos obstinados etc. Em geral, eles não são suscetíveis de correção. Temos de ser um amigo muito especial do possuído, disposto a arcar com as penosas consequências, se quisermos enfrentar uma tal situação. Recuso-me a traçar uma linha divisória absoluta entre possessão e paranoia. A possessão pode ser formulada como uma identificação da personalidade do eu com um complexo. (Jung, 2000,p 127)

Jung tinha uma capacidade ímpar de circunscrever processos complexos em imagens e noções “intuitivas”. A noção “possessão” descreve o aspecto fusionado eu-objeto, havendo a perda da capacidade reflexiva e julgamento acrescido com um comportamento impulsivo ou compulsivo. A possessão indica uma identidade com um objeto interno, quando a identidade ou fusão se dá com um objeto externo como um grupo social Jung falava “participação mística” ou identidade psíquica.

Para a compreender os aspectos psicodinâmicos dos estados de possessão e participação mística, podemos traçar um paralelo com o conceito de posição esquizoparanoide, apresentado por Klein, mas com importantes desenvolvimentos realizados por Wilfred Bion. Antes de falarmos desse conceito, precisamos contextualizá-lo a partir de Klein e Fordham.

Melaine Klein e Michael Fordham

A Posição esquizoparanoide e a posição depressiva foram duas das muitas contribuições originais de Melaine Klein à psicanálise e à percepção do desenvolvimento infantil. No campo junguiano é impossível mencionar Klein sem fazer uma referência direta ou indireta a Michael Fordham, um dos mais originais e brilhantes pensadores junguianos, cujo trabalho abriu o caminho para a análise junguiana de crianças e a perspectiva de desenvolvimento na psicologia junguiana.

Com o trabalho como psiquiatra infantil, Fordham se aproximou do pensamento kleiniano que começava a se desenvolver na Inglaterra. Astor aponta que

Seus empréstimos da psicanálise foram, inicialmente, o método de análise infantil de Klein (mas não sua teoria), que na década de 1930 foi revolucionário, particularmente em sua compreensão de que a brincadeira de uma criança era uma expressão da fantasia inconsciente da criança. Ela lhe deu coragem para falar diretamente com as crianças sobre seus sentimentos inconscientes. E ele reconheceu rapidamente que a fantasia inconsciente de Klein era equivalente às descrições de Jung sobre a experiência arquetípica. (ASTOR, 1995, p.4)

O trabalho de Fordham com crianças e a proximidade com a psicanálise teve (e tem) muita resistência no campo junguiano, Astor comenta que “Carl Meier, um ilustre aluno de Jung e professor de psicologia, referiu-se a Fordham como “carregando a sombra junguiana”, uma frase que dá significado arquetípico à resistência que Fordham encontrou.” (id. p.5). Apesar da resistência no campo junguiano, ele teve reconhecimento kleiniano como pode ser visto no Melaine Klein Trust

Fordham percebeu a correlação entre as concepções de Jung e as posições apresentadas por Klein, acerca da identidade primitiva, próprias a possessão e participação mística, ele apontou que

a identidade primitiva desempenhou um papel importante no pensamento dos psicólogos analíticos. Como uma hipótese que explica a participação mística, ela abriu um campo de estudo. Mas antes que Jung e a maioria de seus seguidores pudessem explorar suas possibilidades psicodinâmicas, Melanie Klein fez exatamente isso. Ela desenvolveu o conceito da posição esquizoparanoide. Essa posição foi associada, especialmente por Segal (1957), à não diferenciação entre sujeito e objeto (equações simbólicas), um evento que Klein também desenvolveu em seu artigo sobre identificação (1955). Nesse trabalho, ela diferenciou um tipo especial de identificação e deu a ele os nomes de identificação projetiva e introjetiva.

O outro conceito importante foi a posição depressiva. Se a posição esquizoparanoide elucida a identidade primitiva, o resultado da deintegração, a posição depressiva elucida a integração e a individuação. (FORDHAM, 1985, p54)

A participação mística ou identidade psíquica foram termos de Lévy-Brühl que Jung utilizou para descrever o estado indiferenciação entre o indivíduo e o objeto – mas, sem considerá-lo do ponto de vista do desenvolvimento. Esse estado de fusionamento/indiferenciação entre indivíduo e objeto, próprio ao desenvolvimento inicial do bebê, foi delineado, na perspectiva junguiana clássica, no final dos anos 40, com o trabalho de Erich Neumann, que descreveu como estágio urobórico.

Acredito ser importante tornar mais claro o termo “posição” utilizado por Melaine Klein, para podermos nos aproximar melhor dessa conceituação.

A noção kleiniana de posição designa um momento organizador decisivo nas produções, nos processos, nas relações de objeto, nas angústias e na mentalização, no decorrer da estruturação do psiquismo (1932, 1952). Esse momento não é uma etapa propriamente dita, um estágio ou uma fase na psicogênese, é uma configuração de base recorrente, ele se refere a uma situação que diz respeito à totalidade da vida psíquica. (KAES,   2016) 

A posição indica a organização psíquica num dado momento. Em Melaine Klein, a posição esquizoparanoide se refere aos processos iniciais da infância, no início da vida extrauterina com um ego incipiente não teria condições de lidar com a ansiedade e das relação com os objetos, o modo de relação se daria por meio das defesas primitivas divisão (bom-mau, satisfatório-insatisfatório) e projeção (identificação projetiva), assim como em uma relação de ameaçado – e ameaçador.

Fordham compreendeu que a posição esquizoparanoide se referiria ao momento em que a relação com o objeto transformacional seria mais intensa operando mudanças profundas no Self(somático-psíquico-ambiental), que corresponderia aos processos deintegrativos-reintegrativos, nos quais o Self expandiria como se “desdobrasse” atualizando-se na experiencia vivida, através das experiências com os objetos /ambiente/mãe/cuidadores. Nesse processo, a atividade do self (deintegração-reintegração) desenrola-se na identidade primeira, na díade mãe-bebê. As diferenciações estão associadas à experiência que pode ser positiva, satisfatória ou “boa” ou, por outro lado, negativa, insatisfatória ou “má”. A experiência qualifica os objetos como “bons ou maus”.

O processo de deintegração expande ou impele a atividade do Self em direção aos processos adaptação, que serão reintegrados como a experiência que fornecerá a base relacional para a formação do ego. O processo de individuação na infância tem como meta o desenvolvimento do ego maduro, com capacidade reflexiva e de distinção, similar posição depressiva. Por isso,

Estou predisposto a aceitar essas formulações porque elas correspondem à identidade primitiva (Ps) e a um primeiro passo na individuação (Dp). Essa proposição foi desenvolvida em meu livro The Self and Autism e, portanto, não vou me aprofundar nela. Nesse livro, não apresentei a fórmula de Bion, que está mais próxima dos estados mentais que podem ser descritos, mas também relativiza, expande e torna as concepções mais flexíveis. (Fordham, Explorations, p.59)

Fordham cita a fórmula de Bion” que compreende que as posições esquizoparanóide (Ps) e depressiva(Dp) como estados de organização psíquica que se sucedem ao longo vida e não apenas um estágio do desenvolvimento. Esses estados da mente que poderiam ser expressos na relação Ps <-> Dp, onde todos entramos e saímos de um ou outro.

A compreensão da posição esquizoparanoide nos auxilia a compreender o modo de funcionamento dos estados indiferenciados da possessão/participação mística e, assim, os processos indiferenciados dos casos-limítrofes.

A posição esquizoparanoide

A posição esquizoparanoide, no bebê, se refere a um estado de organização do self, onde não há sujeito ou ego reflexivo, não há distinção entre eu-outro, ação-pensamento. Ogden (2017) comenta que

Nesse estágio inicial do desenvolvimento, tais atividades defensivas são reações, em vez de respostas. A automaticidade biológica foi transformada em automaticidade psicológica. Apesar de Klein não se referir especificamente à questão da subjetividade, parece implícito em sua teoria e prática clínica que não há um intérprete mediador entre a percepção de perigo e a resposta na posição esquizoparanoide. O fato de esta ser uma psicologia sem um sujeito é o paradoxo básico da posição esquizoparanoide. (Ogden, 2017, p. 54)

Na ausência de um “Eu” ou ego, logo, de uma capacidade reflexiva, o self não é um sujeito da ação, da compreensão ou pensamento, mas é um self-objeto. No desenvolvimento infantil, a posição esquizoparanoide se refere a indistinção de sujeito-objeto, do tempo – não havendo uma perspectiva de temporalidade, estas são aquisições que ocorrem com a posição depressiva onde a historicidade e a subjetividade se desenvolvem. Essa a base para compreensão desse modo de organização primitiva que abarca os indivíduos de qualquer idade. Segundo Ogden,

a posição esquizoparanoide é um modo gerador de experiência impessoal e automático. Perigo e segurança são gerenciados através da descontinuação da experiência (por meio da clivagem) e da expulsão para dentro da outra pessoa de aspectos ameaçados e inaceitáveis do self (por meio da identificação projetiva). A posição esquizoparanoide envolve um estado não reflexivo do ser; os pensamentos e sentimentos do sujeito são eventos que meramente ocorrem. (p.78)

Essa posição envolve uma forma de geração e organização da experiência, onde essa é de natureza predominantemente impessoal e não reflexiva (isto é, a experiência do self que tem poucas características de “eu-dade”). Pensamentos e sentimentos não são criações pessoais; eles são eventos que acontecem. O sujeito não interpreta suas experiências; ele reage a elas com um alto grau de automaticidade. Os símbolos do sujeito não refletem uma disposição de significados pessoais a serem interpretados e compreendidos; os símbolos são o que eles significam. Este é o domínio das coisas-em-si-mesmas. (Ogden, 2017 p.73)

A posição esquizoparanoide é estado de organização psíquica primitiva, defensiva caracterizada pela descontinuidade (não há uma percepção histórica de causa-consequência), a fantasia/delírio (a experiência da realidade é moldada defensivamente), a divisão do objeto (em bom e mau), impulsividade e compulsividade. a posição esquizoparanoide é relacionada aos processos psicóticos, de fusão ou indiferenciação ego-objeto, e relação com a realidade exterior. Esse processo nos auxilia a entender a possessão, descrita por Jung, como um processo defensivo, que toma o ego sem dilacerá-lo no processo da esquizofrenia.

Com predominância dos processos defensivos primitivos, a dificuldade de manejo da transferência, as defesas psicóticas da personalidade que se manifestam nos processos limítrofes desafiam ao clínico.

Estados limites, Trauma e Psicologia Analítica

Os estados limites, limítrofes ou borderline indicam uma forma de organização psíquica própria, diferente dos desenvolvimento cujos processos podem conduzir a estados psicóticos ou a estados neuróticos. Schwartz-Salant comenta que “0 psicanalista francês André Green sugeriu que a categoria “limítrofe” deveria corresponder uma identidade própria (1977, p. 17) e que ela pode exigir um modelo que não seja baseado na psicose ou na neurose. Concordo inteiramente com este ponto de vista.” (SCHWARTZ-SALANT, 1992, p18)

Esse é um aspecto importante, pois no pensamento junguiano tradicional temos poucos recursos para pensar os estados limites. Isso porque o eixo fundamental do desenvolvimento psíquico, o processo de individuação, compreende os processos integradores do Self, a compensação do inconsciente visando o equilíbrio da relação com a consciência.

A neurose surge a partir de um conflito entre a tendência natural à individuação e as condições e escolhas conscientes, sendo uma tentativa da psique se autorregular. Por outro lado, a psicose indica a incapacidade do ego em suportar a tensão e mediar a relação entre o inconsciente-consciência-realidade exterior sendo tomado pelas imagens e manifestações mitopoéticas da psique,e no caso mais específico, a esquizofrenia, o ego se fragmenta. Em todo caso, a compreensão tradicional junguiana tomando o processo de individuação como modelo de saúde psíquica, oscila entre a catástrofe psíquica (psicose/esquizofrenia) ou a tentativa de reparação psíquica (neurose).

A possibilidade de compreensão dos casos-limites no campo junguiano foi construída lentamente através da obra de autores como Fordham, Jacobi, Schwartz-Salant, Knox, Wilkinson (dentre outros), mas ganhou nitidez através do trabalho de Donald Kalsched, ao delinear as defesas arquetípicas(ou do Self) diante dos processos de traumatização na infância, nomeado como trauma precoce, Marcus West é um autor que consolidou a compreensão do trauma precoce associado aos estados limítrofes.

A necessidade de uma perspectiva própria para esses pacientes se deve ao processo de individuação ser interrompido pela vivência traumática. O processo defensivo rompe os vínculos internos e externos restringindo a capacidade simbólica desses pacientes (devido à inibição defensiva da função transcendente). O ego fragilizado se torna incapaz de mediar e sustentar suas funções adequadamente, sendo atravessado pelas defesas primitivas e pelas fantasias que o imobilizam, vivendo na contínua evitação da vivência traumática.

Para essas pessoas, não há um “Self” que nutra simbolicamente o ego ou que sustente processos integrativos. Schwartz-Salant faz uma importante diferenciação entre o Self Transcendente, arquetípico e numinoso e o Self imanente, isto é, como Self encarnado na experiência pessoal, e descreve esse último como

0 self imanente traz coesão aos muitos selves parciais (complexos) de que se compõe qualquer personalidade. Cada um desses selves parciais dá origem a uma sensação particular: somos todos diferentes em diferentes momentos. O self imanente é um destes, mas é singular pelo fato de também atuar para fornecer uma experiencia de totalidade em que todas as partes se integram.

O self imanente esta funcionalmente morto para 0 paciente limítrofe, porque 0 numinoso experimentado como parte da vida cotidiana se manifesta em geral de uma forma fortemente negativa, enquanto a sua natureza positiva não consegue se manifestar. Em vez disso, ela se mantem no limbo entre a realidade exterior e um mundo interior conhecido, em grande parte, através de identificações tortuosas com os arquétipos. O resultado desta identificação é, como sempre, um desmembramento psíquico. A beleza potencial do sagrado se converte no o seu oposto e abundam os sentimentos de feiura do corpo e da alma. (SCHWARTZ-SALANT, 1992, p.71)

Em função disso, com um “self funcionalmente morto” o paciente vive uma experiência contínua de desamparo e sofrimento, que podem desenvolver defensivamente processos de compulsivos, ataques ao corpo, abusos de substâncias para lidar com os afetos negativos e de alguma forma ter a sensação de estar vivo. O self encontra-se encapsulado em processos defensivos e profundamente arraigado aos processos psicoides e somáticos. O fato é que pacientes limítrofes possuem um grande sofrimento psíquico, um grande sentimento inadequação e abandono, dos quais têm dificuldade de acessar e expressar.

Dessa forma, processos de fusionamento com pessoas de seu convívio com processos de identificação projetiva e idealização delirante (positiva ou negativa), sobrecarregando as relações. O mesmo ocorre na relação terapêutica, exigindo uma compreensão profunda da transferência-contratransferência para ser capaz de lidar com os conteúdos pré-simbólicos e defensivos que atravessam a relação terapêutica.

Considerações Finais

A clínica junguiana é rica em técnicas e possibilidades de manejo, mas se vê extremamente empobrecida quando se fecha aos processos psicodinâmicos. E, infelizmente, vemos uma certa resistência no campo junguiano, apesar da publicação de obras que ampliam a compreensão do desenvolvimento e das relações intersubjetivas e ambientais. James Astor, faz um importante apontamento quando afirma que “o estilo tradicional de análise junguiana tratou a mitologia quase como uma metapsicologia, buscando os mitos para ilustrar o comportamento. Fordham reverteu essa tradição e usou seu trabalho clínico com pessoas para iluminar nossos mitos contemporâneos.”(ASTOR,1995, p9) Os mitos e contos são importantes como amplificação, como possibilidade de produzir uma ponte de integração simbólica, mas não substituem a compreensão psicodinâmica.

Os estados limites indicam uma forma de organização psíquica, não um diagnóstico. Por isso, reforçamos o que foi dito anteriormente, podemos encontrá-lo nas mais distintas manifestações, pode se apresentar na depressão, transtornos alimentares, quadros compulsivos, somatizações dentre outras, que incluem o transtorno de personalidade borderline.

A relação entre a possessão/participação mística e posição esquizoparanoide, que há muito foi apontada por Fordham, nos auxilia a compreender a psicodinâmica desse estado de indiferenciação do ego quanto tomado pelos processos defensivos inconscientes. Contudo, a posição esquizoparanoide em si mesma, aponta para um modo de organização psíquica que pode ser fixada nos casos limítrofes e compreendida a partir da perspectiva do trauma.

A diversidade de manifestação dos estados limítrofes nos desafia a um estudo aprofundado da psicodinâmica , da relação transferência-contratransferência, dos processos traumáticos e defensivos. Para tanto, precisamos pensar a clínica junguiana na contemporaneidade.

Referencias Bibliográficas

ASTOR, J. Michael Fordham: Innovations in Analytical Psychology. London: Routledge. , 1995

DALGALARRONDO, P.; VILELA, W. A.. Transtorno borderline: história e atualidade. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 2, n. 2, p. 52–71, abr. 1999.

Fordham, M Explorations into the Self, Library of Analytical Psychology, Volume 7, London: Academic Press, 1985.

Fordham, M., The self and autism. The Library of Analytical Psychology Vol. III. William
Heinemann Medical Books, London, 1976  

 JUNG, C.G. Simbolos da Transformação, Vozes: Petropolis, 1999.

 JUNG, C.G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo, Vozes: Petropolis, 2000.

KAES, René. A ideologia é uma posição mental específica: Ela nunca morre (mas se transforma). J. psicanal.,  São Paulo ,  v. 49, n. 91, p. 207-224,  dez.  2016 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-58352016000200019&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  26  jul.  2024

OGDEN, T. H. A matriz da mente: relações objetais e o diálogo psicanalítico. São Paulo, SP: Blucher; Karnac, 2017

SCHWARTZ-SALANT, N. A personalidade limítrofe: visão e cura.São Paulo: Cultrix: 1992.


________________________________________________________________

Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador de Grupos de Estudos Junguianos. Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985.

e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br

Instagram @fabriciomoraes.psi

Publicado em Clinica Junguiana, Escola Inglesa | Com a tag , , , , , , , | Deixe um comentário

Da Função Transcendente ao Rêverie

Na clínica Junguiana temos na técnica da imaginação ativa uma importante contribuição de Jung para a prática da psicoterapia, através da qual o paciente poderia estabelecer uma relação objetiva com imagens e personificações do inconsciente, possibilitando a integração de conteúdos inconsciente.

A função transcendente é conceito chave para entender a imaginação ativa, assim como outras possibilidades de aproximação ao inconsciente. A partir da função transcendente vamos pensar o conceito de função alfa de Bion, como correlatos que servem de base para pensar a imaginação ativa, visão imaginal de Schwartz-Salant e rêverie de Bion, fenômenos similares que nos ajudam a pensar o processo simbólico do analista durante a análise.

A Função Transcendente e a Visão Imaginal

No texto “A Função Transcendente”, escrito em 1916, Jung traz uma importante discussão, tomando como base a questão “De que maneira podemos confrontar-nos com o inconsciente?” (JUNG, 2000). O texto apresenta diferentes níveis de compreensão acerca da função transcendente, como aponta Damião Jr

Esse texto pode ser lido em diversos níveis de hermenêutica, ou variados modos de compreensão, são metadiscursos que se compõem a partir de outros discursos.

– Em um primeiro momento, pode ser entendido como um trabalho técnico/clínico, no qual se desenvolvem técnicas para acesso ao inconsciente e para o processo de iteração entre consciente e inconsciente, com ênfase propriamente na criação de imagens;

– Num outro nível, um texto epistemológico, pois como se verá ele aborda o problema dos modos de conhecimento do inconsciente e do consciente. Modo de distinção feita entre uma ênfase que seria dada no aspecto estético do símbolo ou em sua compreensão, tratando, também, da questão da “visão sintética”, um modelo de ciência que se basearia no sentido, em vez da explicação. Nessa perspectiva, existe um aspecto metodológico do uso do termo como função e como processo;

– Por fim, pode-se entendê-lo em seu aspecto ontológico, ao caracterizar o processo de formação do indivíduo, como se originando a partir do “confronto” e diálogo entre consciente e inconsciente. (DAMIÃO JR, 2019, p. 2-3)

A partir dessa perspectiva vamos nos ater ao aspecto técnico/clínico, considerando as possibilidades de acesso ao inconsciente, em especial à formação. No texto de Jung, a função transcedente emerge como um princípio organizador e integrador das tendências da consciência e do inconsciente. A função transcendente não seria um produto “artificial”, mas um princípio natural, uma função que se manifesta nos sí mbolos. Dada a importância do diálogo interior, como possibilidade de elaboração simbólica e integração do inconsciente, Jung desenvolveu, a partir da própria experiência, a imaginação ativa, como capacidade estabelecer um diálogo interior, de modo equilibrado, sem perda do inconsciente ou da consciência, ativando ou potencializando a função transcendente do paciente.

De forma geral, falamos da imaginação ativa como técnica a ser usada com e pelo paciente. Nosso foco não é aborda-la nesse contexto, mas pensar por parte do analista através da constratransferência. Sobre este ponto Jung afirma

Assim, um analista reage a uma “transferência” com uma “contratransferência”, quando a transferência projeta um conteúdo de que o próprio médico não tem consciência, embora exista realmente dentro dele. A contratransferência é adequada e plena de sentido ou inibidora como a transferência do paciente, na medida em que tende a estabelecer relações mais favoráveis que são indispensáveis para a percepção da realidade de certos conteúdos inconscientes. Mas justamente como a transferência, também a contratransferência possui qualquer coisa de compulsivo, de mecânico, porque implica uma identificação “mística”, isto é, inconsciente, com o sujeito. Ligações inconscientes desta espécie suscitam sempre resistências que são conscientes, se as disposições do sujeito são de tal natureza, que lhe permitam dispor livremente de sua libido, recusando-se a cedê-la por engodo ou sob pressão, e inconscientes, se o sujeito se compraz em que lha tomem. É por isto que a transferência e a contratransferência, quando os seus conteúdos permanecem inconscientes, criam relações anormais e insustentáveis que tendem para a própria destruição. (Jung, 2000 , p.221)

A influência exercida pelo paciente sobre o analista, se expressa na contratransferência, e possibilita que o analista entre em contato com o inconsciente do paciente atráves do próprio inconsciente. Cabe ao analista compreender essas manifestações – que podem ser sentimentos, sensações somáticas, lembranças pessoais, lembranças de filmes ou narrativas ou mesmo elementos aletórios do cotidiano do analista – devem ser consideradas como reações ou reverberaçōes do inconsciente do analista e precisam ser consideradas à luz da história ou transferência do paciente, para assim esse processo ser transformado em informações úteis ao analista.

A advertência que Jung aponta é o estado de inconsciência no paciente ou no analista. Através da contratransferência o analista se “faz de função transcendente para o paciente, isto é, ajuda o paciente a unir a consciência e o inconsciente e, assim, chegar a uma nova atitude” (Jung, 2000, p. 145).

Mas, como fazer a função transcente para o paciente? Jung nos dá uma direção importante:

O meu esforço consiste justamente em fantasiar junto com o paciente. Pois não é pouca a importância que dou à fantasia. Em última análise, a fantasia é para mim o poder criativo matemo do espírito masculino. No fundo, no fundo nunca superamos a fantasia.(…) Toda obra humana é fruto da fantasia criativa. Se assim é, como fazer pouco caso do poder da imaginação? Além disso, normalmente, a fantasia não erra, porque a sua ligação com a base instintual humana e animal é por demais profunda e íntima. É surpreendente como ela sempre ‘chega a propósito’. O poder da imaginação, com sua atividade criativa, liberta o homem da prisão da sua pequenez, do ser “só isso”, e o eleva ao estado lúdico. O homem, como diz SCHILLER, “só é totalmente homem, quando brinca”. (Jung, 1999, p 43)

A fantasia ou mais propriamente a imaginação é a capacidade de expressar em imagens e palavras o processo vivenciado com o inconsciente. De forma que o conteúdos sejam objetivados, permitindo que o ego estabeleça o diálogo interior. Na análise, ocorrerá a transposição da vivência da contratransferência em símbolos (imagens, palavras, sentimentos, sensações), através de uma dialética interior, que no momento propício será compartilhado ao paciente na relação terapêutica.

De modo similar, porém muito particular, o analista Nathan Schwartz-Salant, que trabalhou com casos-limite ou borderline, em quem a dificuldade de elaboração simbólica é pronunciada, desenvolveu a experiência de “imaginar junto” como uma possibilidade da simbolização e elaboração de conteúdos proto-simbólicos, da parte psicótica da personalidade, integrando-os e favorecendo o fortalecimento e organização do ego dos pacientes.

Schwarzt-Salant denominou essa técnica de visão imaginal, e diz

A visão imaginal é como a imaginação ativa, mas, ao utilizar a visão imaginal na terapia, e essencial que 0 inconsciente do terapeuta seja constelado por meio de sua contratransferencia. Por exemplo, só depois que me tornei consciente de minhas tendências de cisão e de um afeto pouco modulado que nao atraia às partes psicóticas de John, pude começar a usar esta reação de contratransferência. Submetendo-me de modo consciente a esse estado induzido de contratransferência e ficando incorporado, pude deixar que a imaginação me levasse a perceber a sua sondagem no segundo plano.


A esfera imaginal não se manifesta necessariamente através de imagens visuais; 0 sentimento e a sensação cinestésica são também canais naturais. É possível que a natureza do ato imaginal seja matizada pela função inferior do terapeuta, de modo que um terapeuta verá “visivelmente”, enquanto outro verá “sentimentalmente”. De qualquer forma, 0 processo exige que 0 terapeuta se deixe afetar pelo material do paciente sem ter que recorrer a interpretações, que, na melhor das hipóteses, se revelariam uma manobra defensiva.

A imaginação é um ato nascido do corpo. Surge de uma matriz de confusão e desordem. A fé, e não tanto a vigência da compreensão, e a parteira.(SCHWARTZ-SALANT, 1992, p,214)

A visão imaginal é uma variação da imaginação ativa realizada pelo analista, não ouvimos muito no cenário junguiano falar dessa modalidade de relação ou manejo com a contratransferência. A visão imaginal não ganhou força ou presença no campo junguiano, diferente de seu correlato psicanalítico, o conceito de rêverie, que desde que foi apresentado em 1962 por Bion, foi incorporado é trabalhado por vários autores. A semelhança dos dois conceitos nos possibilita pensar e amplifciar a visão imaginal a partir das discussões acerca do rêverie.

A função Alfa e o Rêverie

W.R Bion foi um dos mais criativos e inovadores psicanalistas do século XX. A amplitude e produndade de sua obra, desenvolvimento de técnica psicanalítica que, como é bem conhecido, em vários aspectos se aproxima e tangencia a obra de Jung.

Bion desenvolveu sua teoria ao pensar a partir de seu trabalho com pacientes psicóticos, desse trabalho destacamos os elementos beta, elementos alfa e função alfa.

Os elementos beta corresponderiam aos elementos da experiência sensorial e afetiva que não se integram ao psíquico e não estabelecem vínculo ou conexão, “proliferando” de forma caótica, em si mesmos incapazes de se tornarem representação, quer em pensamento ou sonhos. Esses elementos são descarregados (ou evacuados) em forma de agitação motora, choro, somatizações ou na identificação projetiva. Em linguagem junguiana poderíamos compreendê-los como elementos psicóides, proto-simbólicos, não integrados, a “massa confusa” da alquimia.

Os elementos alfa são elementos basais da experiência psíquica, são as primeiras representações, vivências simbólicas basais que abstraem a experiência em si, e que se organizam e podem se manifesfar nos processos oníricos, na memória e demais funções psíquicas superiores. Para Bion, a diferenciação de “dentro e fora” surge a partir dos elementos alfa que geram uma “barreira de contato”, diferenciando o que é consciente e inconsciente. O ego pode lidar e elaborar os elementos alfa.

A função alfa atua no processamento dos dados sensoriais, elementos beta, em elementos alfa. O bebê não possui função alfa, a capacidade de processar os elementos beta, é através da função alfa da mãe que, p.ex., diante do choro, agitação motora, sons lhes atribui um sentido/significado, nomeando como fome -> e o amamenta, sono -> e faz o bebe dormir), incôdomo com excrementos -> troca as fraldas, dores -> dá remédio; possibilita que a criança tolere o incômodo/frustração e abre caminho para a “psiquificação” dos dados sensoriais, nomeados como fome, sono, incômodo, dor, gerando elementos (alfa) que poderão ser ordenados, participar da formação do pensamento, sonhos, ser nomeados e vividos conscientemente. A mãe aberta aos processos da criança acolhe esses dados projetados e devolve como um elemento integrado, simbólico. A criança irá desenvolver sua própria função alfa a partir da experiência materna.

A função alfa materna também é expressa com o conceito de rêverie. Zimmerman explica

Essa denominação foi cunhada por Bion (1962, p. 58) e, tal como a sua raiz francesa mostra (rêve = sonho), designa uma condição em que a mãe (ou o analista) está em um estado de “sonho”, isto é, está captando o que se passa com o seu filho não tanto através da atenção provinda dos órgãos dos sentidos, mas muito mais pela intuição, de modo que uma menor concentração no sensório possibilita um maior afloramento da sensibilidade. Em suma, diz Bion: “a rêverie é um componente da função α da mãe”, capaz de colher as identificações projetivas da criança, independentemente de serem percebidas por esta como boas ou más.

Da mesma forma, o estado de sonho da função rêverie do analista possibilita que dê um livre curso às suas fantasias, devaneios e emoções, em um estado mental que lembra o da “atenção flutuante” preconizada por Freud e que serviu de inspiração ao que Bion veio a postular como um estado do analista em relação com o paciente “sem memória, desejo ou compreensão”. Pode-se dizer que o conceito de rêverie é uma ampliação e complementação da “atenção flutuante”. (…)
A função de rêverie é estudada por Bion como a capacidade da mãe (analista) de fazer a identificação introjetiva das identificações projetivas do seu filho (analisando); ou seja, é a capacidade de fazer ressonância com o que é projetado dentro dela. (Zimerman, 2008, p.231)

O rêverie ou função alfa da mãe é internalizado (introjetado) pela criança, possibilitando o desenvolvimento da consciência (barreira de contato), a formação simbólica. Contudo, o que se torna importante é a relação do rêverie com o processo analítico. Através do rêverie o analista transforma os conteúdos, manifestos na contratransferência em material analítico. Nessa perspectiva, o

Rêverie, por outro lado, foi a ideia que ele aplicou para descrever a atitude do analista durante a sessão, podendo ser alcançada apenas depois que o analista tenha se tornado capaz de abandonar memória, desejo, preconcepções e compreenênção. (…) o analista disciplinado para aguardar a chegada do fato selecionado, elemento que finalmente emerge das associações do analisando e/ou nutralmente a partir do inconsciente do próprio analista sob a forma de “imaginação especulativa”, a qual é então transformada em “raciocínio especulativo” em ressonância intuitiva com o analisando (GROTSTEIN, 2017 p.364).

É possivel compreender que a função transcendente e a função alfa correspondem ao mesmo princípio formador de símbolos, que integram e perminte a nossa percepção da realidade.

Imaginação Ativa, Visão Imaginal e Rêverie

Como atividade imaginativa e intersubjetiva o rêverie apresenta similaridades com as técnicas junguianas imaginativas. Mark Winborn aborda o reverie e a imaginação ativa dizendo que

A postura adotada no rêverie é semelhante à da imaginação ativa de Jung (1916), na qual um relacionamento ou postura é estabelecido com o fluxo interno. A imaginação ativa, que foi descrita como “sonhar com os olhos abertos” (Sharp, 1991, p. 13), é uma técnica desenvolvida por Jung para facilitar o envolvimento e a assimilação de processos inconscientes em um estado relaxado, mas acordado. Entretanto, é importante observar que Jung via a a imaginação ativa como uma atividade envolvida principalmente pelo analisando que, às vezes, pode ser facilitada pelo analista. Não parece que Jung via a imaginação ativa como algo que era praticado com outra pessoa, como o rêverie é tipicamente conceituado. (…)

Em contraste com a imaginação ativa, o Rêverie analítico tem sido um conceito diádico desde o início. Ogden (2017) se refere ao rêverie como um “sonho acordado” (p. 5), mas que é sonhado com outra pessoa e não sozinho. Nesse sentido, Ogden (1997) vê o rêverie como um evento pessoal/privado (ou seja, intrapsíquico) e intersubjetivo. Em outras palavras, ele reconhece a presença de de duas subjetividades que podem experimentar sua interação como sendo tanto individual e coletiva (ou seja, como uma experiência interconectada e emergente) (WINBORN, p. 134)

O rêverie e a visão imaginal são expressões do mesmo fenômeno vivenciado pelo analista que possibilita a construção do “terceiro analítico”, fruto da relação analítica, no espaço potencial entre o analista o paciente, a partir do qual podem ocorrer as transformações. A psicanálise contemporânea tem trabalhado bastante com a conexão e o potencial transformador do processo analítico. Ogden comenta que

A nova subjetividade (o terceiro analítico) permanece na tensão dialética com as subjetividades individuais do analista e analisando. Não considero o terceiro analítico intersubjetivo como entidade estática; ao contrário, compreendo-o como uma experiência em evolução, em fluxo constante na medida em que a intersubjetividade do processo analítico é transformada pelas compreensões geradas pelo par analítico;

O terceiro analítico é vivencidado pela personalidade de cada um, analista e paciente, não sendo, portanto, uma experiência idêntica para ambos. A criação do terceiro analítico reflete a assimetria da situação analítica, pois ele é criado no contexto do setting analítico que, por sua vez, se estrutura por meio do relacionamento dos papéis de analista e analisando (OGDEN, 2013, p.43).

O terceiro analítico, que emerge do campo transferêncial, que sustenta a análise é o vas hermeticum, o vaso alquimico ou o temenos, o local sagrado e protegido onde o sagrado se manifesta. Esse campo simbólico é alcançado, visto e vivido por meio de uma atitude analítica simbólica, que pode ser expressas por diferentes vias como a imaginação ativa em Jung, pela visão imaginal em Schwartz-Salant ou rêverie em Bion.

O rêverie e a visão imaginal possibilita que o analista, em coniuncio com o paciente, possa acessar os conteúdos constelados na relação terapêutica inconsciente e trazer uma interpretação (sobre interpretação veja o texto Pensando a interpretação na Psicologia Analítica). Esta última deve ser compreendida como um ato analítico-simbólico que conecta situação presente/sintoma do paciente, com conteúdos da matriz inconsciente (complexos, defesas, etc) gerando a possibilidade de transformação. Ou mesmo, compreendo o momento para utilizar outros recursos com o paciente como a imaginação ativa ou a técnicas expressivas.

Devemos levar em consideração os casos que os pacientes com dificuldade ou aparentemente incapazes de simbolizar, isto é, com ego frágil, excessivamente defensivos, que Jung e autores de primeira geração falavam de “psicose latente”, e que hoje compreendemos como estados-limite ou pacientes borderline, onde não seria indicado a imaginação ativa. Nesses casos há uma inibição defensiva da função transcendente (ou uma falha da função alfa), assim, o processo interpretativo (por ser um processo simbólico) não é bem sucedido.

Com esses pacientes, é necessário restaurar capacidade de vivenciar a função transcendente e o processo simbólico. Cabe ao analista, fazer a função transcendente/função alfa para o paciente, utilizando a visão imaginal/rêverie, para que ele possa transformar os conteúdos proto-simbólicos/psicóides do paciente, assim como a experiência cindida de si mesmo e da realidade.

o terapeuta que se aventura a recuperar a visão imaginal do paciente não pode dar-se 0 luxo de deixar passar as distorções de realidade que afligem indivíduo limítrofe. (Para isso, e para uma compreensão geral do paciente limítrofe, a literatura psicanalítica é valiosissima(…) A menos que lidemos com 0 modo como 0 mundo esta cindido para o paciente limítrofe (por exemplo, em objetos irreais “bons” e “maus”), nossas tentativas de religar 0 paciente a uma reaIidade imaginal produzirão apenas uma secreta inflação e reforçarão uma abordagem delirante da realidade (SCHWARTZ-SALANT, 1992, p. 18).

Com os pacientes limites a transferência de conteúdos proto-simbólicos gera incômodo e, com frequência, gera contrarrestência no analista – ativando defesas e interrompendo a possibilidade da relação simbólica. Schwartz-Salant sugere que através da visão imaginal, é possível que, em alguns casos, o paciente reintegre sua visão imaginal, restaurando a função transcendente, que fora inibida defensivamente. A retomada da relação com o inconsciente é um processo integrativo, por isso devendo ser compreendida como a restauração da função transcendente.

A função transcendente é um conceito junguiano importante, contudo foi pouco desenvolvido e ampliado em direção aos processos de desenvolvimento e sua função na análise. O paralelo com a função alfa, nos permite vislumbrar e amplificar a percepção da função transcendente, cuja amplitude o campo junguiano intui, mas sem sistematizar. Do mesmo modo, que os estudos psicanalíticos acerca do rêverie temos a amplifição a proposta do Schwartz-Salant, uma contribuição impar no cenário junguiano.


Referências

DAMIAO JR., Maddi. A função transcendente: algumas reflexões sobre o processo de criação. Pesqui. prát. psicossociais [online]. 2019, vol.14, n.4 [citado  2024-03-26], pp. 1-17 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-89082019000400007&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1809-8908.

GROTSTEIN, James S. “… no entanto, ao mesmo tempo e em outro nivel...” Vol I , São Paulo: Blucher, 2017.

JUNG, C.G. A natureza da Psique, Petropolis: Vozes, 2000.

JUNG, A Prática da Psicoterapia,Petrópolis: Vozes, 1999.

OGDEN, T, Rêverie e interpretação, São Paulo: Escuta, 2013.

SCHWARTZ-SALANT, N. A personalidade limítrofe: visão e cura.São Paulo: Cultrix: 1992.

ZIMERMAN, David E. Bion : da teoria à prática : uma leitura didática;. 2. ed. Porto Alegre : Artmed, 2008.

Publicado em Clinica Junguiana, Conceitos Fundamentais, Uncategorized | Com a tag , , , , , , , , | Deixe um comentário

O Brilho nos Olhos do Analista

Um recorte muito comum na clínica são casos de  jovens mulheres com complexo materno negativo, que leva a sérias dificuldades de auto percepção, auto aceitação e autoestima ( homens também podem apresentar as mesmas características, mas dado nosso contexto social, vemos mais frequentemente em mulheres). Estes se manifestando com frequência com perfeccionismo, ansiedade, a culpa, e um censo de responsabilidade gigantesco e opressivo em relação à mãe. 

As mães, no geral, são mulheres sofridas, muitas vezes vindas do interior, que criaram os filhos sem apoio familiar (da família de origem) e com dificuldades em relação à família do marido – estes últimos, no geral, ausentes, machistas etc ; e com frequência, com dupla jornada, se viam exaustas e fazendo o que lhes era possível no cuidado dos filhos. 

Nessas condições, essas mães cujo sofrimento era invisibilizado,  estavam despotencializadas/desvitalizadas e, assim, impossibilitadas de oferecer o investimento afetivo necessário/demandado pelo desenvolvimento dos filhos. 

Mario Jacoby, do livro “Individuação e Narcisismo”, nos ajuda a entender um pouco desse processo quando diz que   

O senso da autoestima deve ser conservado por ações e reconfirmado constantemente. Ao mesmo tempo, uma autoestima sadia não atribui valor ao indivíduo somente mediante consecução. O “brilho nos olhos da mãe” introjetado também gera um sentimento interior de que a existência inteira de alguém é confirmada. O outro polo, no caso excelente, contém ideais maduros. Estes envolvem questões suprapessoais maiores ou menores, as quais são muitas vezes consideradas doadoras de sentido à existência do indivíduo. (JACOBY, 2023, p.150) 

Jacoby utiliza uma concepção de Kohut sobre a importância do “brilho dos olhos da mãe” como a capacidade de espelhar o Self,  para que o bebê possa internalizar/integrar a experiência de si-mesmo.  O “Brilho nos olhos da mãe” é um investimento narcísico importante, que vitaliza e potencializa o desenvolvimento. Quando a relação mãe-criança é prejudicada, o conjunto de sintomas pode surgir pela não humanização de aspectos fundamentais de autocuidado, autopercepção e sentido de si-mesmo, ou de estar em si-mesmo.  

O sofrimento do paciente aponta para o registro histórico-afetivo que chamamos de complexo materno negativo, contudo, há outro registro tão importante quanto, que é a ferida narcísica  vivenciada pelo ego como elementos de rejeição, indigno de amor e insuficiência e revivida em suas relações. Na relação transferência-contratransferência tanto os conteúdos afetivos negativos (medo, raiva, sentimento de abandono e rejeição) como conteúdos saudáveis que precisam humanizados, para uma relação saudável consigo e com o outro, podem ser elaborados.  Lidar com complexo materno exige atenção, paciência e técnica, mas lidar com a ferida egóica exige o “brilho nos olhos do analista”, para ser capaz de encontrar “o que não tem forma”, o que ficou perdido e cuidar, investir nele, dar continência, forma, contorno aos aspectos ainda sem forma do Self.  Gambini fala da transferência de uma forma muito bonita, ele diz: 

Na esfera psíquica, alguém precisa cuidar do que ainda não nasceu e essa tarefa é do analista. Depois que veio à luz, começa-se cuidadosamente entregar o bebê para a mãe. O trabalho mais importante é na realidade aquele feito com o feto, quando só o terapeuta tem condições de enxergar e valorizar aquilo que ainda não tem cara nem nome. Portanto, aceito sentimento como dependência, gratidão, amor, cobrança, raiva, desejo de exclusividade e de atenção especial, por considerá-los como inevitáveis nessa fase de gestação. O grande teste para um analista é a hora que ele constata que consegue suportar o peso e a responsabilidade da transferência. (GAMBINI, p.111 – grifo meu) 

Assim, é importante pensar que muitas vezes  os componentes maternos mobilizados na contratransferência apontam a criança ferida que, escondida no inconsciente do paciente, busca o brilho nos olhos do analista para que possa vir à luz, para que a reparação do amadurecimento interrompido possa ganhar contorno, forma e direção. Esse processo exige o investimento e consciência ativa do analista, para que não seja levado a “atuar” maternalmente, tutelando o paciente e, assim, prejudicando o desenvolvimento do paciente. 

referências bibliográficas

GAMBINI, R. A voz e o tempo: reflexões para jovens terapeutas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2008.
JACOBY, Mario, Individuação e Narcisismo – A psicologia do si-mesmo em Jung e Kohut, Petrópolis: Vozes, 2023.

________________________________________________________________

Fabricio Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico Junguiano, Supervisor Clínico, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Especialista em Acupuntura Clássica Chinesa (IBEPA/FAISP). Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador de Grupos de Estudos Junguianos. Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985.

e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br

Instagram @fabriciomoraes.psi


Publicado em Clinica Junguiana | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário