Indicação de Livro: “O Si-mesmo Oculto”

O livro “O Si-mesmo Oculto” é um livro do Jung (ou seja, dispensa apresentações), que foi lançado recentemente pela Editora Vozes, juntamente com o “Aspectos do Feminino” e “Aspectos do Masculino”. Como dissemos em outro post, este formato corresponde a uma outra forma de apresentação de Jung ao público, diferente das obras coligidas (no Brasil chamado de Completas) que tem 18 volumes, as obras temáticas possibilitam o que leitor tenha acesso a ideias de Jung a partir de textos representativos.

Os dois artigos são dois artigos do final da vida do Jung, ou seja, período que o pensamento ou a teoria do Jung já estava estabelecida. O primeiro corresponde ao texto do livro “Presente e Futuro”, que é um texto amplo onde o centro do texto é a noção de “Autoconhecimento” que é abordado em relação a diferentes aspectos (sociedade, politica, religião).

O segundo capitulo é aborda os símbolos na vida psíquica. Este é um texto relativamente conhecido pelo público, pois é o ultimo em vida por Jung que foi publicado no livro “O homem e seus Símbolos”, nas obras completas esse texto é encontrado livro “A vida simbólica – Vol 1”. É superimportante ressaltar que os textos não são iguais. Apesar de terem a a mesma matriz as traduções são baseadas em versões diferentes (salvo engano, um é da edição inglesa e o outro da edição alemã). Assim, as traduções são um pouco diferentes (conheço pessoas que leram e não perceberam que se tratava do mesmo texto).

Ou seja, para o leitor ter contato com as ideias deste livro seria necessário recorrer a 2 livros das obras completas! Assim, este livro é uma excelente aquisição para todos que tiverem interesse neste tema, o prefácio é de Sonu Shamdasani.

Ficou interessado? Sugerimos que vc entre em contato com nossos parceiros da Editora Vozes da Loja de Belo Horizonte (que atende Vitória-ES) pelo tel +55 31 8473-5464 ou clicando direto nesse link para o Whatsapp Vozes Belo Horizonte

Segue as informações do site da vozes:

DETALHES DO PRODUTO

ISBN9788532662651
Dimensoes13.7cm x 21.0cm x 0.9cm
Edicao1
NrPaginas192
Selo EditorialEditora Vozes
TemasPsicologia

No período posterior à Segunda Guerra Mundial, com o advento da Guerra Fria, a construção do muro de Berlim e a explosão da bomba de hidrogênio, Jung encontrou-se mais uma vez confrontado com “um tempo dilacerado pelas imagens apocalípticas de uma destruição planetária”, como se encontrara quando compôs o Liber Novus durante a Primeira Guerra Mundial. Articulando ali um elo direto entre o que ocorria no indivíduo e na sociedade em geral, ele argumentou que a única solução para os acontecimentos aparentemente catastróficos no mundo era o indivíduo entrar em seu interior e resolver os aspectos individuais do conflito coletivo.

Sumário

Prefácio à edição de 2010, 7
I – O si-mesmo oculto, 11
II – Símbolos e interpretação dos sonhos, 87

Publicado em Livros, Uncategorized | Com a tag , , | Deixe um comentário

Perspectivas Junguianas acerca do Ego – Parte 1

O ego é um conceito fundamental para a psicologia analítica, pois é a partir dele que podemos compreender e delimitar a nossa relação com a realidade, com os objetos internos e externos, distinguindo a realidade interna e externa. Compreendendo a importância e, para provocar a reflexão acerca do ego, em algumas aulas eu provocava perguntando aos alunos “Onde está o seu ego?” Tal pergunta era recebida com estranheza, desconfiança e, frequentemente, silêncio. As vezes a resposta se dava numa pergunta titubeante “está na consciência? ” Ou “está na cabeça? ”.  Essas respostas explicitavam o quanto nosso enfoque acerca do inconsciente eclipsava os estudos e desenvolvimentos acerca do ego e dos processos da consciência.

Uma fator que certamente influencia essa dificuldade está na falta de uma teorização mais precisa acerca do ego é um fato que comentado por diferentes autores.  Para Samuels(1989)

Uma dificuldade ocorre porque Jung usa de forma intercambiável “ego”, “complexo do ego”, “consciência do ego” e “consciência”. Outro problema é seu uso de metáforas ambíguas: o ego tanto pode ser visto como uma pele esticada sobre o inconsciente (CW 18, § 122) e, ao mesmo tempo, o centro da consciência (CW 6, § 706). (SAMUELS, 1989, 77)

Evers-Fahey (2017) concorda com essa falta de clareza e aponta quatro possíveis razões para essa dificuldade em relação ao ego. Em primeiro lugar, Jung não seguia uma definição ou conceituação determinada, antes dava diferentes descrições sobre o ego em sua obra completa assim como em suas cartas; em segundo lugar, o uso dos termos “ego”, “complexo do ego” e “ego consciência” indicavam que a ênfase do Jung era mais voltada para o significado do ego do que para estruturar o conceito.

A terceira razão seria que as ideias de Jung evoluíram correlacionadas a sua vida profissional, muitas das ideias acerca do ego organizadas no período em que Jung ainda colaborava com Freud, após a ruptura a forma como Jung organizou sua compreensão a partir de uma perspectiva relacional e dinâmica do ego. E a quarta razão é que Jung não organizou uma metapsicologia do ego pois seus interesses se dirigiam para outro lugar, especialmente a compreensão dos arquétipos e o Self.

Em todo caso, apesar de não sistematizar uma teoria acercado do ego Jung fez considerações importantes que nos abrem a possibilidade pensar o Ego. Samuels aponta que  

é útil considerar as ideias de Jung sobre o ego sob três aspectos: (a) O ego pode ser visto o como um núcleo arquetípico da consciência, e, portanto, trata-se de um complexo do ego com uma série de capacidades inatas. (b) O ego pode ser visto como um elemento na estrutura psíquica em termos de suas relações com o Self (c) Finalmente Jung ás vezes adota uma perspectiva de desenvolvimento a partir da qual se pode visualizar as exigências mutáveis feitas ao ego nos vários estágios da vida. (SAMUELS, 1989, p. 77)

Assim, devemos pensar o ego em seus aspectos de desenvolvimento, funções e dinâmica.

Formação e Desenvolvimento do Ego

O primeiro aspecto fundamental para pensarmos o ego é compreende-lo em seu processo de formação e desenvolvimento. Esse aspecto, em especial, não encontra uma forma própria na obra de Jung. Os dois teóricos que desenvolveram teorias que preencheram essa lacuna foram Erich Neumann e Michael Fordham. Apesar de reconhecer a importância de Neumann, enfatizaremos a compreensão de Fordham sobre o desenvolvimento, focalizando sua compreensão acerca do desenvolvimento do Ego.

No modelo de Fordham não há um ego formado no momento no nascimento, o bebê constitui um self primário ou original. Este é Self é uma unidade psicofísica integrada, ou seja, todo potencial de desenvolvimento psicofísico está contido ou integrado no self e será atualizado, desborando-se a partir da interação com o ambiente( que inclui a mãe, pai, roupas, manejo da criança). A relação com o ambiente se caracteriza pelas relações objetais, que irão qualificar a experiência com o ambiente, influenciando nos processos de apego e constituição do ego, por hora focaremos na formação do ego.

O self primário traz consigo a potência do desenvolvimento, experiência da totalidade integrada não pode ser percebida ou representada. O potencial humano arquetípico do self se desenvolve em diferentes níveis: biofisiológico; relacional e representacional. O desenvolvimento biofisiologico possibilita estado propício à apreensão dos estímulos, que levará a atualização ou humanização do potencial arquetípico formando as bases sobre as quais o psiquismo se organizará. 

O processo de atualização e humanização arquetípico se desdobra num processo continuo e rítmico que Fordham denominou de deintegração e reintegração. A deintegração implica na ativação do self, isto é, ou partes do self que frente aos estímulos apresentam um estado de “prontidão para a experiência, uma prontidão para perceber, uma prontidão para agir instintivamente, mas não uma percepção ou ação real”. (Fordham, 1957, p.127). Os deintegrados representam a possibilidade de resposta ou reação aos estímulos, a experiência é reintegrada e gradativamente formando as primeiras experiências do bebê. Através do processo de deintregração-reintegração o self desdobra-se, transformando de um self integrado, atemporal, para um self relacional, presente e representacional.

Para exemplificar, na primeira infância a deintegração do self ocorre inicialmente através estímulos sonoros, táteis, luz, orais – que ativam diferentes partes do self, promovendo transformações no Self. Notemos, nesse momento as experiências estão intimamente relacionadas ao self primário integrado que é psicossomático, por isso não falamos de imagens, símbolos ou consciência pois, ainda não se diferenciaram. Todos os processos primários são arquetípicos, por excelência, pois os arquétipos são os padrões basais de organização psíquica, assim, Fordham não nomeou este ou aquele padrão arquetípico – pois, nos referimos a um momento pré-egoico e pré-simbólico. Essas experiências arquetípicas deintegradas, atualizadas, vividas na relação são reintegradas, atualizadas ao self no sono, no descanso do bebê.

A relação afetuosa do bebê e sua mãe possibilita segurança para manutenção desse processo de deintegração e reintegração. Na etapa inicial do desenvolvimento não há distinção entre consciente, inconsciente, realidade interior ou exterior. A deintegração exprime uma dinâmica da energia que se dirige aos estímulos e retorna ao self sendo reintegrada. Os deintegrados do self formam os primeiros objetos do self.

Embora ao nascer o bebê se caracterize por relações objetais, parece evidente que a natureza de seus objetos seja composta. Algumas de suas percepções são objetivas, mas o grosso delas está fortemente carregado de energia proveniente do deintegrado do self. Essa energia organiza a percepção de forma que o objeto se toma algo que poderia ser chamado de objeto do self (FORDHAM, 2001, p.92)

Devemos observar que o self se relaciona de uma forma fragmentaria com a realidade e essa relação se baseia em aspectos primários, isto é sensoriais. Essa relação se dá em termos simples, baseado em satisfação e insatisfação, conforto e desconforto, visando um o estado de estabilidade e segurança para o desenvolvimento. As relações com o ambiente/mãe e suas transformações (satisfação-insatisfação; conforto-descontorto, prazer-desprazer etc) possibilitam o inicio da distinção de self e não-selt, possibilitando contornos que diferenciem os objetos externos e os objetos do self. 

Os objetos do self possibilitam que a energia dirigida e atualizada na relação com o ambiente formem centros de consciência, que expressam parcialmente o self, que são as representações do self. Estas representações que formam as bases de uma consciência de si mesmo, sentido de continuidade, de fronteiras que distinguem o self do não-self  de uma auto-percepção que levará a formação de uma imagem corporal e um senso de integridade. As representações do self, como aspectos parciais do self que foram deintegrados, formam os “fragmentos” ou “núcleos do ego” que vão ser integrados pela atividade integradora do self.          

Na formação do ego se dá através de pequenos núcleos, resultantes da deintegração, que logo se ligam para que se possa falar de um centro de consciência como nos escritos de Jung. Nesse processo, função integrativa do self desempenha um papel essencial. O corpo principal do ego, às vezes chamado de ego central, tem uma relação especial com o arquétipo do self. Esse arquétipo central pode ser pensado em um organizador do inconsciente: contribui significativamente para a formação do ego central em que encontra expressão, especialmente em experiências conscientes de individualidade. (FORDHAM, 1985, p.32 – tradução nossa)[1]

Deve-se notar que este não é um processo linear. Afirmamos no início, que não há um ego constituído no nascimento, contudo, toda atividade deintegrativa-reintegrativa visa a formação e desenvolvimento do ego.

Geralmente é sustentado, na visão clássica, que durante a individuação o ego dá lugar ao self,o qual, no entanto, se reflete cada vez mais claramente no ego; em contraste, na primeira infância e ao longo da infância, o organismo visa estabelecer o ego em relação ao mundo da realidade material, os arquétipos e também o self. (FORDHAM, 1976, p.14-5 – tradução nossa[2])

A partir dos 4 meses, as relações objetais se tornam cada vez mais perceptíveis, toda dinâmica do self visa a estabilidade e segurança para que o ego possa lenta e continuamente possa se configurar, este movimento na infância é compreendido também como processos de individuação. Aproximadamente com dois anos notamos um ego estável, contudo, assim como o organismo ele está apenas no início de seu amadurecimento.

Um breve comentário sobre relações objetais e defesas

Não cabe aqui uma discussão ampla sobre as relações objetais, contudo, faremos um apontamento de sua importância. Incialmente essa relação se dá em termos simples baseados em satisfação e insatisfação, conforto e desconforto, prazer e dor visando um o estado de estabilidade e segurança para o desenvolvimento. As experiências satisfatórias, de prazer e segurança são nomeadas como objetos bons, já as experiências de dor, insatisfação e desconforto são nomeadas como objetos maus.

A relação com os objetos bons e maus influenciam diretamente a experiência do self e ego em relação ao ambiente. Visto que, diante de um ambiente seguro (com predominância de objetos bons) os processos deintegrativos e reintegrativo (que ocorre em momentos de descanso/segurança) se desenvolve de forma mais segura e intensa, possibilitando abertura e interesse pela realidade exterior. Naturalmente, os objetos de frustração e insatisfação fazem parte e são necessários, contudo, seu predomínio produz ansiedade prejudicando os processos relacionais e vinculares com mãe/ambiente.

As tentativas do self em manter objetos bons e afastar/evitar os objetos maus dão origem as defesas primitivas (defesas do self). Essas defesas atuam de forma controlar ou modificar os objetos(como identificação projetiva e introjetiva, algumas formas de acting out e regressão, idealização, somatização dentre outras). Esse fenômeno pode ser percebido no choro, protesto, evacuação e a agressividade são formas de expulsar ou manter ou recupera/manter com os objetos. As defesas do self são protótipos das defesas do ego.  

As defesas visam manter a estabilidade o organismo de modo propiciar o processo de desenvolvimento da forma mais satisfatória possível. Sob essa perspectiva, as defesas compõem o sistema autorregulatório do self que visam regular a relação com o ambiente, propiciando um meio adequado para o desenvolvimento ou amadurecimento.

No processo de desenvolvimento as defesas possibilitam a estabilidade interna necessária para um sentimento satisfatório de integridade. Mesmo as experiências negativas (internalizadas nos complexos) são mantidas afastadas da consciência. Isso é importante para que esses objetos maus não sejam identificados com o ego em seu processo de amadurecimento, pois ao se identificar com objetos de ansiedade a organização/força do ego seria prejudicada e, assim, a capacidade de autopercepção, autoimagem e autoestima (assim como de estabelecer vínculos estáveis/seguros) seriam comprometidos.

(Em breve postaremos a segunda parte – Gostou? Teve dúvidas? Deixe um comentário!)

Referencias Bibliográficas

SAMUELS,Andrew. Jung e os Pós-junguianos, Rio de Janeiro: Imago, 1989.

EVERS-FAHEY, Karen, Towards a Jungian Theory of the Ego, New York: Routledge, 2017.

FORDHAM, Michael, New Developments in Analytical Psychology: London: Routledge and Kegan Paul, 1957.

FORDHAM, Michael, The Self And Autism, London: William Heinemann Medical Books Ltd, 1976.

FORDHAM, Michael, A Criança como Individuo, São Paulo, Cultrix, 2001


[1] when some ego has formed it will be as a number of small nuclei the result of deintegration, which soon become linked together so that one can speak of a centre of consciousness as in Jung’s writings. In that process the integrating function of the self plays an essential part. The main body of the ego, sometimes called the central ego, has a special relation to the archetype of the self. That central archetype can then be thought of an an organizer of the unconscious: it contributes significantly to the formation of the central ego in which it finds expression especially in conscious experiences of selfhood

[2]It is usually held in the classical view that during individuation the ego gives place to the self, which, ehowever, the ego comes to reflect more and more clearly; by contrast, in infancy and childhood the organism aims to establish the ego vis-à-vis the world of material reality, the archetypes and so also the self.

——————————————————–

Fabrício Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Diretor do Centro de Psicologia Analítica do CEPAES. Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  desde 2012 Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

http://www.cepaes.com.br

Publicado em Conceitos Fundamentais, Escola Inglesa | Com a tag , , , , , , , | Deixe um comentário

Indicação de livro: “Aspectos do Feminino” do Jung

O livro “Aspectos do Feminino” é um livro do Jung (ou seja, dispensa apresentações), que foi lançado recentemente pela Editora Vozes. Esse é o primeiro dos livros do Jung que iremos indicar que apresenta um modelo diferente que estamos acostumados que é o de coletânea temática (muito comum em outros países) tanto que este volume é baseado na edição da língua inglesa de 1982!

Neste livro são coletados e organizados os principais textos onde Jung aborda o Feminino ao longo de sua carreira, o primeiro texto é de 1921 e o último 1951. Assim, temos uma dimensão da evolução suas ideias. Com o avanço dos estudos do feminino na contemporaneidade esse livro é um objeto de pesquisa prático e acessível. O prefácio escrito por Walter Boechat nos auxilia a compreender a evolução das ideias do Jung acerca do Feminino e situando o leitor no contexto de cada capítulo.

Vale a pena ressaltar que para o leitor ter contato com as ideias deste livro seria necessário recorrer a 4 livros das obras completas! Assim, este livro é uma excelente aquisição para todos que tiverem interesse neste tema.

Ficou interessado? Sugerimos que vc entre em contato com nossos parceiros da Editora Vozes da Loja de Belo Horizonte (que atende Vitória-ES) pelo tel +55 31 8473-5464 ou clicando direto nesse link para o Whatsapp Vozes Belo Horizonte

DETALHES DO PRODUTO (Do Site da Vozes)

ISBN9788532662682
Dimensoes13.7cm x 21.0cm x 1.2cm
Edicao1
NrPaginas248
Selo EditorialEditora Vozes
ColecoesOBRAS COMPLETAS DE CARL GUSTAV JUNG
TemasPsicologia

Aspectos do feminino oferece uma série de artigos e extratos dos escritos de Jung que transmitem suas visões sobre o feminino e sobre temas que são intrínsecos ou relacionados: casamento, eros, a mãe, a virgem/donzela e o conceito de anima/animus, que é uma característica central da teoria da estrutura da personalidade de Jung. Esta seleção de textos abordando as várias faces do feminino segundo a teoria psicológica de C.G. Jung constitui importante ferramenta para reflexão e aprofundamento do universo feminino e sua relação com o universo masculino em uma época em que os modelos tradicionais de virilidade e feminilidade se dissolvem e requerem uma nova atitude coletiva.

Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

Limites: Contornos, Margens e Fronteiras

Em nossa vida cotidiana falamos muito em limites, nos mais diferentes contextos e sentidos: falamos em ter limites, colocar limites, reconhecer os limites, estar no limite e superar os limites etc. A ideia de limite pode comportar uma vastidão de possibilidades figurativas e existenciais.  Assim, gostaria de pensar a noção de limite sob a perspectiva da psicoterapia, para tanto vou explorar a ideia de limite em três imagens ou perspectivas: o contorno, a margem e a fronteira

Antes de abordamos essas imagens, gostaria de lembrar a etimologia, a origem, da palavra limite, ela vem do latim limes que indicava o caminho entre dois campos – o que chamamos popularmente de “caminho da roça” ou mesmo de trilha. Dessa imagem, o limes,-ites, é um marco que simultaneamente indica tanto o fim do campo, quanto o início do outro campo, assim com a interseção, o encontro  dos dois campos.

O limite, o limes, como o caminho entre dois campos, não só marcava o início ou o fim de um território, mas indicava também a forma desse espaço ou campo. Posteriormente, os cartógrafos, utilizavam os caminhos, rios e montanhas para desenhar os marcos, os limites que davam forma aos reinos e territórios. Assim, podemos compreender o primeiro significado importante da ideia de limite, que é o contorno.

Conhecendo o próprio corpo com diversão - Papo da Professora Denise

O contorno expressa a forma, expõe a figura. Precisamos antes fazer uma distinção: fomos acostumados a pensar no contorno externo, vindo do social das regras, dando a forma esperada pelas expectativas coletivas. Esse é o contorno mais aparente, intimamente relacionado a persona, que media a relação social mais adequada, entre eu e o outro. Contudo, há outro contorno mais sutil que é tão importante quanto o primeiro, que é o contorno interno, que delineia o ego e suas relações.

Duas das funções mais importantes do ego é a autopercepção e o autorreconhecimento. Para essas funções é necessário que o ego tenha um contorno claro, capaz de distinguir e perceber sensações do corpo, sentimentos e complexos– uma vez delineados, o ego pode se relacionar com eles, sem que seja tomado pelos mesmos. Quando esse contorno não é delineado na infância, o indivíduo vai apresentar uma dificuldade de expressão dos afetos e sentimentos (quer seja pelo excesso ou pela falta), assim como de se perceber na relação com os outros. Quando recebermos um contorno adequado, isto é, quanto nosso ego é constituindo de forma estável, podemos ter a sensação de integridade e autoestima necessárias a uma vida saudável.

 Muitas vezes, a função da psicoterapia é ajudar a criar contornos para o paciente, para ele possa se perceber, desenvolvendo a própria autoimagem, autoconceito e autocuidado. Esse contorno, essa experiência de ter continência, de estar em si que é tão importante. Os contornos nos dão forma interna e externa.

Paisagem Natural Do Verão Com Rio Pantanal Em Florida, EUA Imagem ...

Outra imagem para pensar o limite é a margem, escolhi essa imagem visualizando um rio. A margem indica o caminho, o espaço de fluxo. Em suas margens o rio produz vida, movimento, nutrição. Quando enche, quando transborda pode produzir destruição e morte.

A margens delineiam o curso do rio, seu movimento. Assim também é nossa vida, para seguir o curso precisamos compreender e respeitar nossas margens. Gosto de pensar uma margem como nosso corpo e nossas necessidades físicas;   a outra é nossa psique e suas necessidades espirituais. Enquanto estivermos respeitando nossas margens teremos segurança que propicia a vida, o fluxo necessário para seguirmos em frente, vivendo nosso processo de individuação criativamente, dentro de nossos limites naturais.

Nossa vida cotidiana, frequentemente, nos impele ao excesso, a transbordar e romper com nossas margens. Seja qual for o excesso (trabalho, comida, religião, relacionamento) ele produzirá sofrimento e dor. Muitas vezes, levados pelos excessos, nos distanciamos de nossas margens, de nosso curso natural, a tarefa da psicoterapia é nos ajudar e reencontrar nossas margens, e nesse sentido Jung afirmou “somente aquilo que realmente somos tem o poder de curar-nos”.   

Portal dos Mitos: Jano
Janus

A terceira imagem do limite é a fronteira. A fronteira indica o fim e o início, ou marca os inícios. Na mitologia romana, temos uma interessante divindade dos limites e das transições, o deus Janus ou Jano. A peculiaridade de Janus era justamente por ser um deus bifronte, isto é, tinha duas faces uma que dirigia para frente e outra para trás da cabeça, ou seja, ele olhava para frente e para trás, passado e futuro, para dentro e para fora. Janus era, por excelência, o deus dos começos – pois, todo limite nos conduz ao novo, ao início. Por isso mesmo, nosso primeiro mês do ano, janeiro tem seu nome em homenagem ou referência a Jano.

A fronteira nos coloca diante da possibilidade das transições e da transcendência. Estamos sempre atravessando novas fronteiras sejam elas do tempo, dos espaços das atitudes. Essas travessias nos colocam diante do mistério da vida, nos desafiando a viver. A cada manhã atravessamos várias fronteiras, mas, geralmente não notamos isso. A sabedoria antiga nos ensinava que ao atravessar qualquer fronteira já estávamos sob o julgamento de Deus – o obter o sucesso ou o retorno seguro só aconteceria “se Deus quiser”.  

Assim, sem atravessar os limites, sem ultrapassar as fronteiras não atenderemos o chamado de nossa aventura, não conheceremos a vontade de Deus, e o mistério da vida não se revelará. A função da psicoterapia é encorajar a travessia, é dar suporte ao enfrentamento do novo, auxiliando ao indivíduo nesse novo caminho que se abre. Nessas três imagens o contorno, a margem e a fronteira temos referencias importantes para compreendermos que os limites não se reduzem a normas e regras, mas expressam aspectos fundamentais da vida e os quais não há individuação.

——————————————————–

Fabrício Fonseca Moraes (CRP 16/1257)

Psicólogo Clínico de Orientação Junguiana, Especialista em Teoria e Prática Junguiana(UVA/RJ), Especialista em Psicologia Clínica e da Família (Saberes, ES). Diretor do Centro de Psicologia Analítica do CEPAES. Formação em Hipnose Ericksoniana. Coordenador do “Grupo Aion – Estudos Junguianos”  desde 2012 Atua em consultório particular em Vitória desde 2003.

Contato: 27 – 99316-6985. /e-mail: fabriciomoraes@cepaes.com.br/ Twitter:@FabricioMoraes

http://www.cepaes.com.br

Publicado em Uncategorized | Com a tag , , , , , , | Deixe um comentário

Livro: “Morte e renascimento da ancestralidade indígena na alma Brasileira”

A Editora Vozes está com um super lançamento que é o livro “Morte e Renascimento da Ancestralidade Indígena na Alma Brasileira” Org. por Humbertho Oliveira. Este livro agrega trabalhos apresentados no XXV Congresso da AJB em Bento Gonçalves.

Acredito que este seja o segundo livro da “Coleção Jung contemporâneo” – que teve como primeiro livro “Desvelando a Alma Brasileira” também organizado pelo Humbertho Oliveira, um projeto da Associação Junguiana do Brasil. Que também vale a pena conferir!

Para adquirir entre em contato com a Editora Vozes, acima estão os contatos da loja de Belo Horizonte, que é nossa parceira, vocês serão super bem atendidos! Não deixe de falar que você que viu a divulgação nas redes do CEPAES 😉

Veja o sumário do livro!

Publicado em Livros, Mitologia, religião e contos de fadas | Com a tag , , , , | Deixe um comentário